segunda-feira, outubro 20, 2025
ColunaGisa Veiga

Alguém tem que ceder

A propósito da morte da fabulosa atriz norte-americana Diane Keaton, no último fim de semana, lembro de um filme, com ela e Jack Nicholson, que me marcou: “Alguém tem que ceder”. Este artigo não é sobre cinema, mas devo lembrar que, por esse filme, Keaton ganhou um Globo de Ouro e outros reconhecimentos importantes, e que sua personagem é o oposto da de Nicholson. Mas os dois acabam se entendendo.

O título do filme encaixa-se, em termos, no teor deste artigo, que é sobre o encontro entre o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, que terá como pauta a preparação de um encontro presencial entre os presidentes dos dois países.

Há quem aposte, como Eduardo Bolsonaro, numa “jogada de mestre” de Donald Trump para humilhar o presidente brasileiro. Com que interesse? Sabe-se lá. E há quem afirme, por outro lado, que, como Trump odeia perdedores, o assunto Bolsonaro já estaria totalmente descartado, e nada impediria, portanto, um bom — ou pelo menos razoável — entendimento comercial aceitável entre ambas as partes.

Alguém tem que ceder? Bem, o ideal é que haja um equilíbrio nas propostas, cada um cedendo no que for possível. No caso do Brasil, como deixou claro o presidente Lula, inegociável, mesmo, é a soberania brasileira.

Os mais céticos em um avanço nas negociações avaliam como ruim a escolha de Rubio para os primeiros entendimentos, já que ele é considerado um auxiliar com “forte viés ideológico” e oposição ferrenha à esquerda latino-americana. Os mais otimistas acreditam que isso não tem nenhum peso frente a uma decisão pessoal de Trump sobre os rumos que a conversa entre os dois auxiliares dos governos deverá tomar. Ele manda. O outro obedece. Se quiser humilhar o Brasil, ele o tentará; mas, se isso está longe dos seus planos, não há o que Rubio fazer. Muito menos Eduardo Bolsonaro, com sua realidade paralela.

Claro que Trump não é um presidente muito confiável, além de um tanto volúvel em seus posicionamentos e imprevisível nas decisões. Ele muda de opinião ao sabor do seu humor do dia. Pode mudar sua disposição para conversar com o presidente brasileiro de uma hora para outra, e aí aquele “clima” que pintou na conferência da ONU pode não ir para a frente. Vai saber…

No entanto, pelo menos até agora nada indica que o encontro entre Lula e Trump seja uma grande armação. Se a conversa será proveitosa para o Brasil, não é uma garantia. Mas que será humilhante, também não.

Para haver algum resultado concreto nessa tentativa de reaproximação entre os dois países, alguém terá que ceder. Alguém, não. Os dois.

Agora deu vontade de rever o filme.

 

Por Gisa Veiga

Artigo publicado originalmente no Jornal A União

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