Brasil se destaca como potencial hub de inteligência artificial com vantagens energéticas
Em meio à corrida global pelo desenvolvimento da inteligência artificial (IA), o Brasil emerge como um candidato promissor para sediar grandes data centers, graças ao seu potencial energético e estabilidade. Especialistas reunidos na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informática (CCT) do Senado Federal destacaram, nesta quarta-feira (21), as vantagens competitivas do país para atrair investimentos internacionais no setor.
O debate, que discutiu o projeto de lei que regulamenta os data centers de inteligência artificial no Brasil (PL 3.018/2024), revelou que o país possui uma “janela de oportunidade” de dois a três anos para se posicionar como referência mundial. “Precisamos ser rápidos em algumas definições porque o mundo está olhando onde investir em data centers”, alertou Gleysson Klynger de Moura Araújo, CEO da Everest Digital.
Entre os diferenciais brasileiros, a disponibilidade de energia renovável aparece como fator decisivo. “Esse mercado só vem para o Brasil em função de nossa energia renovável. As empresas de operadores de data centers só conversam se tiver garantia de disponibilidade energética, fonte de energia renovável e uma altíssima eficiência elétrica”, explicou Renan Lima Alves, presidente da Associação Brasileira de Data Centers (ABDC).
A estabilidade política e geográfica do Brasil também foi destacada como vantagem competitiva, especialmente no contexto atual de conflitos internacionais. “A Europa está muito preocupada com seus dados. Com o que tem acontecido tanto em alimentação de energia quanto a guerras, grandes empresas podem perder os seus dados que estão lá e perder a sua história”, complementou Araújo.
Expansão acelerada da IA
O debate ocorre em um momento de expansão acelerada da inteligência artificial em escala global. Rubens Caetano, coordenador-Geral de Inovação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), ressaltou que “a inteligência artificial está em processo de expansão e tem previsão de crescimento nas suas próximas gerações. Hoje estamos falando de inteligência artificial generativa, mas ainda temos os próximos saltos dela, uma inteligência artificial geral e, mais para a frente ainda, uma superinteligência artificial”.
Essa evolução tecnológica já impacta diversos setores da economia e deve transformar ainda mais o mercado de trabalho e a produtividade nos próximos anos. O senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) destacou que “existem três pernas conectadas, que são a segurança cibernética, a inteligência artificial e proteção de dados. Essas três pernas precisam sempre andar juntas para que a gente tenha esse crescimento de forma correta”.
Google anuncia novidades em IA
Enquanto o Brasil discute como atrair infraestrutura para IA, as grandes empresas de tecnologia seguem avançando com novos produtos e serviços. O Google anunciou, na terça-feira (20), durante sua conferência anual de desenvolvedores (I/O), uma série de melhorias em suas ferramentas de inteligência artificial e um plano de assinatura premium para usuários avançados.
Por US$ 249,99 mensais (aproximadamente R$ 1,4 mil), o “Plano AI Ultra” oferecerá aos usuários limites mais altos de uso de IA e acesso antecipado a ferramentas experimentais, como o Project Mariner, uma extensão de navegador que pode automatizar toques no teclado e cliques do mouse, e o Deep Think, uma versão mais avançada do seu modelo de ponta Gemini.
Segundo Sundar Pichai, CEO da empresa, o aplicativo Gemini, assistente de IA do Google, já conta com mais de 400 milhões de usuários ativos mensais. A empresa também apresentou sua visão para o mecanismo de busca do Google, que permitirá consultas mais complexas, como analisar o que a câmera do smartphone vê ou buscar um ingresso para compra.
Entre as novidades mais impressionantes está o Veo 3, um novo modelo de IA capaz de gerar vídeo e áudio para a criação de trechos de filmes mais realistas, além de um “agente universal de IA”, que pode executar tarefas em nome do usuário sem solicitação adicional.
Desafios regulatórios
Apesar do entusiasmo com as oportunidades, especialistas alertam para a necessidade de um marco regulatório claro. Miriam Wimmer, diretora da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), destacou a importância de um “marco jurídico estável, um arcabouço institucional bem calibrado, para que as regras estejam claras, de modo a promover segurança jurídica necessária à atração de investimentos e proteção dos direitos das pessoas”.
O projeto de lei em discussão no Senado tem como objetivo garantir a segurança, a privacidade, a transparência, a eficiência energética e a responsabilidade no uso dessas tecnologias, estabelecendo obrigações para os data centers e seus operadores, bem como medidas para garantir a sustentabilidade ambiental.
Para o senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), relator da matéria, “esse é um dos projetos da maior importância hoje”, e o governo demonstra interesse em que “o projeto ande” rapidamente.
Com o avanço da inteligência artificial e a crescente demanda por processamento de dados, o Brasil tem a oportunidade de se tornar um protagonista global nesse setor estratégico, combinando suas vantagens naturais com um ambiente regulatório adequado.
Fontes: CNN Brasil e Agência Senado