Sem condições de governar, premiê da França renuncia menos de um mês após assumir
Antes de completar um mês de governo, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu pediu demissão na manhã desta segunda (6), agravando a crise política vivida pela França há mais de um ano. O pedido foi aceito pelo presidente Emmanuel Macron.
A renúncia aumenta a chance de uma dissolução do Parlamento e da convocação de novas eleições. A França teve cinco primeiros-ministros nos últimos dois anos: Élisabeth Borne, Gabriel Attal, Michel Barnier, François Bayrou e Lecornu.
Lecornu discursou no pátio do Hôtel de Matignon, residência e local de trabalho do premiê. “Não se pode ser primeiro-ministro quando as condições não são preenchidas”, afirmou. “É preciso sempre preferir seu país a seu partido.” Segundo o premiê demissionário, “os partidos políticos continuam a se comportar como se todos tivessem a maioria absoluta”.
Segundo a mídia francesa, por ora não há previsão de pronunciamento de Macron sobre o assunto. Em seu segundo mandato, que vai até 2027, Macron não pode concorrer à reeleição. O presidente já disse mais de uma vez que pretende cumprir seu mandato até o fim.
A líder das pesquisas de intenção de voto para a Presidência em 2027, Marine Le Pen, que na prática comanda a sigla RN, disse que não pedirá a renúncia de Macron, mas que “seria sábio” se ele tomasse essa decisão. Por outro lado, segundo ela, a dissolução da Assembleia é “absolutamente necessária”.
Le Pen, que é deputada, em princípio está inelegível, devido a uma condenação por desvio de fundos do Parlamento Europeu. Seu recurso será julgado em janeiro.
Lecornu havia sido nomeado por Macron no dia 9 de setembro, e no último domingo (5), depois de mais de três semanas de tratativas de bastidores, anunciou um ministério parecido com o de seu antecessor, Bayrou —de quem havia sido ministro da Defesa.
O ministério de Lecornu foi fortemente criticado pela oposição, tanto de ultraesquerda quanto de ultradireita. Até mesmo um dos integrantes do gabinete, Bruno Retailleau, reconduzido ao Ministério do Interior, responsável pela segurança pública, expressou publicamente o descontentamento de seu partido, os Republicanos, de direita.
Com ambições de chegar à Presidência, Retailleau acusou Lecornu de “esconder” o nome escolhido como novo ministro da Defesa, Bruno Le Maire. Ex-ministro da Economia durante os sete primeiros anos de Macron na Presidência (2017 a 2024), Le Maire não era a opção que agradava aos Republicanos.
A ameaça da perda de apoio da sigla direitista foi fatal para Lecornu, pois significaria que seu governo não sobreviveria a uma moção de censura.
Nas eleições para o Parlamento europeu, em junho do ano passado, o partido de Macron, o Renascimento, foi derrotado. O presidente agravou a situação ao convocar novas eleições para a Assembleia Nacional. O resultado foi um Parlamento rachado em três blocos —esquerda, centro-direita e ultradireita— sem que nenhum tivesse obtido maioria para governar.
Macron nomeou sucessivamente Barnier, Bayrou e Lecornu, mas nenhum dos três conseguiu formar uma maioria para aprovar leis. Barnier ficou três meses no poder; Bayrou, nove.
Folha/UOL
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