Morre Arlindo Cruz, um dos maiores sambistas do país, que foi do Fundo de Quintal
Respeitado pelos colegas e admirado pelo público, o sambista Arlindo Cruz vivia um dos pontos altos de sua carreira quando, em 17 de março de 2017, sofreu um acidente vascular cerebral. Sobreviveu, mas com sequelas graves. Nunca mais andou, falou, muito menos compôs e cantou. Sua jornada se encerrou nesta sexta-feira (8), aos 66 anos.
A informação foi confirmada por sua mulher, Babi Cruz, à Folha. Arlindo estava internado desde 25 de março no hospital Barra D’Or, na zona oeste do Rio, após receber um diagnóstico de pneumonia. Ele havia recebido alta em junho, mas piorou e seguiu no hospital.
“Com imenso pesar, a família e a equipe de Arlindo Cruz comunicam seu falecimento. Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho. Sua voz, suas composições e seu sorriso permanecerão vivos na memória e no coração de milhões de admiradores”, publicou a família no Instagram do músico.
“Agradecemos profundamente todas as mensagens de carinho, orações e gestos de apoio recebidos ao longo de sua trajetória e, especialmente, neste momento de despedida. Arlindo parte deixando um legado imenso para a cultura brasileira e um exemplo de força, humildade e paixão pela arte. Que sua música continue ecoando e inspirando as próximas gerações, como sempre foi seu desejo.”
Estudou na Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica, mas seu caminho era o samba. Aos 17, tocou cavaquinho no disco “Roda de Samba”, de Candeia, amigo de seu pai e seu ídolo.
Foram 12 anos no conjunto, período em que se tornou uma figura conhecida, um músico requisitado para tocar em CDs de outros grupos —poucos dominavam o banjo como ele— e um compositor cobiçado.
Fez dupla com Sombrinha, também ex-integrante do Fundo de Quintal, com quem gravou cinco discos de 1996 a 2002.
Mas o vício em cocaína passou a atrapalhar o desempenho de Arlindo. Em 2003, ele parecia fadado à decadência. Sua voz estava muito comprometida, e o CD “Pagode do Arlindo”, lançado naquele ano, foi considerado precário em termos técnicos.
Mas o artista nunca deixou de compor compulsivamente —segundo suas próprias contas, são mais de 550 músicas gravadas. Foi sua capacidade de trabalho e seu talento que lhe permitiram dar a volta por cima.
Entre seus amigos, Zeca Pagodinho sempre foi considerado um irmão. A dupla era chamada de “o gordo e o magro” na juventude, pois eles estavam sempre juntos. Compuseram, às vezes junto de outros parceiros, sucessos como “Camarão que Dorme a Onda Leva”, “Bagaço da Laranja”, “SPC” e “Alto Lá”.
A assinatura de Arlindo está em mais sambas célebres —”Casal sem Vergonha”, “Só pra Contrariar”, “Seja Sambista Também”, “O Show Tem que Continuar” e “Tá Perdoado”.
Também nunca deixou as escolas de samba. Compunha quase todo ano para o seu Império Serrano —que desfilou com sambas seus e de parceiros em 12 carnavais— e participou de disputas em outras agremiações, como Acadêmicos do Grande Rio e Unidos de Vila Isabel.