Mesmo com tarifas de Trump, exportações de suco de frutas da Paraíba para os EUA mais que dobram
Demanda americana por suco concentrado de abacaxi sustenta alta nas vendas; já o açúcar paraibano sente os efeitos das tarifas e aguarda avanços nas negociações bilaterais
As tarifas impostas pelo governo americano sobre produtos brasileiros a partir de agosto não frearam o ritmo das vendas de suco de frutas da Paraíba para os Estados Unidos. Entre janeiro e setembro de 2025, o estado exportou R$ 69 milhões, um aumento de 125,6% em relação ao mesmo período de 2024, quando as remessas somaram R$ 30,5 milhões.
O suco de frutas é hoje o principal produto exportado pela Paraíba para os Estados Unidos. Os dados são do sistema Comex Stat, plataforma de consultas e extração de informações sobre o comércio exterior brasileiro, mantida pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Mesmo após o tarifaço de 50% entrar em vigor, o desempenho se manteve em alta. Entre agosto e setembro, as exportações atingiram R$ 21,2 milhões, o dobro do registrado no mesmo intervalo do ano anterior. Mais da metade (52,9%) do suco paraibano segue tendo como destino o mercado americano, enquanto 43,4% são enviados à Holanda – dois principais destinos entre os 11 países que compram o produto do estado.
Os especialistas do setor justificam que a alta se deve principalmente à forte demanda dos Estados Unidos por suco concentrado de abacaxi e a uma quebra de safra na Tailândia e na Costa Rica, que são os maiores produtores mundiais. Isso abriu espaço para o suco paraibano, que tem o diferencial da variedade Pérola, enquanto os outros países trabalham com outras espécies.
O impacto inicial das tarifas levou as principais empresas a transferir os contratos para o mercado europeu em agosto. Mas, em setembro, com a escassez do produto no mercado americano, alguns clientes aceitaram pagar as tarifas de 50% e as exportações foram retomadas em setembro.
O crescimento das exportações beneficia diretamente os produtores rurais e a indústria local. A Intrafrut, principal empresa exportadora do estado, processa cerca de 60 mil toneladas de abacaxi por ano, sendo 80% cultivado na própria Paraíba, em municípios como Santa Rita e Itapororoca.
A empresa compra as frutas de produtores cadastrados da região, complementando sua demanda com o fornecimento de outros cinco estados do Nordeste, o que mantém a atividade agrícola aquecida ao longo de todo o ano. Com sede na Paraíba, a Intrafrut tem como principal atividade a industrialização de frutas e produção de sucos concentrados, destinando aproximadamente 70% da produção ao mercado externo.
Os embarques são realizados pelos portos de Suape (PE) e Salvador (BA), em contêineres refrigerados. A empresa exporta principalmente suco concentrado de abacaxi, atendendo também ao mercado interno com mais de 300 clientes. Lá fora, o consumo de sucos concentrados é expressivo — um contraste com o hábito brasileiro de consumir a fruta in natura.
Mesmo com o bom desempenho, os empresários do setor confirmam estarem ansiosos com a abertura de uma linha de diálogo para negociações entre os governos brasileiro e americano para que isso traga maior estabilidade aos negócios de todos que fazem parte da cadeia produtiva.
Sem encontrar soluções, açúcar paraibano amarga perdas
Se o suco de frutas conseguiu sobreviver às tarifas, o mesmo não se pode dizer do açúcar produzido na Paraíba. O produto deixou de ser o principal item da pauta exportadora paraibana aos Estados Unidos em 2025, perdendo a liderança justamente para o suco de frutas. Desde o início da medida, nenhuma usina do estado conseguiu exportar o produto aos estadunidenses.
Segundo o presidente-executivo do Sindalcool-PB, Edmundo Barbosa, o setor aguarda a publicação de uma portaria do Ministério da Agricultura que define a divisão das cotas de exportação entre os estados nordestinos, mas a rentabilidade das operações foi praticamente anulada.
Ele explica que o Brasil possui uma cota anual de 155 mil toneladas de açúcar com condições especiais de entrada nos EUA, destinada exclusivamente aos estados do Nordeste. “As empresas vão cumprir a cota apenas para não perder o direito de exportar futuramente, mas sem rentabilidade nenhuma”, afirmou. “Essa cota sempre foi uma forma de compensar as diferenças regionais e garantir competitividade. Mas, com a incidência da tarifa de 50%, o custo sobre o preço torna inviável o negócio”, completou.
Mesmo diante das perdas, Barbosa afirma que o setor segue atento às tratativas diplomáticas. “O encontro de Lula com Trump reacendeu esperanças. Acreditamos que o posicionamento americano pode mudar, até porque o Brasil é um parceiro comercial que compra mais dos Estados Unidos do que vende para eles. Não haveria razão para tarifas adicionais”, disse.
Ele ressalta que as entidades têm atuado junto ao governo federal e aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento, além da vice-presidência da República, para subsidiar as negociações. “Estamos em uma posição de observação, mas com muita atividade. É um cenário de incertezas, mas há sinais de que as coisas estão melhorando”, afirmou.
- Texto de Joel Cavalcanti para o Jornal A União deste domingo (26/10).
- Foto: Creative Commons/Reprodução

