Copa América feminina reacende debate sobre igualdade no esporte: avanços e desafios persistem
A abertura da Copa América de futebol feminino, nesta sexta-feira (11), traz novamente aos holofotes a luta das mulheres por igualdade no esporte. Embora a modalidade tenha registrado um crescimento de 24% de público em 2025 e o número de treinadoras tenha dobrado em relação à edição anterior, atletas ainda enfrentam desafios estruturais, como desigualdade salarial, falta de representatividade e exposição a abusos.
Esses e outros temas foram discutidos na audiência pública promovida pela Comissão de Esporte (CEsp) do Senado na última quarta-feira (9), com participação da senadora Leila Barros (PDT-DF), atletas, ex-atletas e especialistas.
Desigualdade estrutural e representatividade
Leila Barros ressaltou que o avanço feminino no esporte ainda não se traduz plenamente em posições de liderança. “Se não tivermos essa representatividade, nós não abriremos espaço para as outras. Precisamos ter mulheres como vice-presidentes, ministras, juízas…”, afirmou.
Apesar de terem conquistado 13 das 20 medalhas brasileiras na Olimpíada de Paris, em 2024, as mulheres ainda são minoria em cargos técnicos: há cerca de 7,6 treinadores homens para cada treinadora, segundo o Ministério da Mulher.
Violência no esporte: um problema estrutural
A ex-nadadora Joanna Maranhão destacou dados alarmantes sobre violência no esporte: 63% das atletas sofreram violência sexual antes dos 18 anos, e 93% passaram por algum tipo de violência, incluindo psicológica. A informação é fruto de pesquisas acadêmicas conduzidas por Joanna após sua aposentadoria.
Ela defende a criação de uma agência nacional de esporte seguro, inspirada em modelos internacionais, que atue investigando abusos, aplicando sanções e mantendo um banco de dados de infratores. A proposta encontra respaldo no projeto da Autoridade Nacional para Prevenção e Combate à Violência e à Discriminação no Esporte (Anesporte), prevista na Lei Geral do Esporte, mas vetada pela Presidência da República.
O Congresso ainda pode derrubar o veto e garantir a criação do órgão.
Igualdade salarial e premiações
Tramita no Senado o projeto de lei 321/2021, que proíbe repasses públicos a eventos esportivos que não assegurem premiações iguais para homens e mulheres. A proposta é vista como uma extensão da lei que garante igualdade salarial entre os gêneros.
A ex-jogadora de vôlei Valeska dos Santos Menezes relatou que, após anos de luta, a Superliga de vôlei passou a pagar mais às mulheres do que aos homens — uma exceção ainda rara no cenário esportivo.
Investimentos públicos e acesso
O programa Bolsa Atleta, principal mecanismo federal de apoio financeiro a esportistas, ainda beneficia mais homens do que mulheres. Em 2023, apenas 41,4% das bolsas estudantis foram destinadas a mulheres, e, no total, 55,8% das bolsas foram para homens, segundo relatório do governo federal.
O Comitê Olímpico do Brasil cobrou mais políticas públicas e apresentou o Programa Mira, voltado à formação de atletas femininas e à promoção de lideranças femininas no esporte.
Paradesporto e dupla exclusão
A atleta paralímpica Verônica Hipólito alertou para a invisibilidade das mulheres com deficiência nas discussões sobre igualdade no esporte. “Temos que lutar contra o machismo e o capacitismo. Somos sempre esquecidas”, declarou.
Apesar dos avanços, o cenário esportivo brasileiro ainda impõe barreiras significativas às mulheres, especialmente em questões de segurança, visibilidade e equidade. A criação de órgãos como a Anesporte e a implementação de políticas de igualdade de gênero são passos fundamentais para garantir um futuro mais justo e seguro para todas no esporte.
Fonte: Agência Senado
Foto: Lívia Villas Boas/CBF