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“Artistas estão desistindo da profissão. É assustador”, diz Letícia Colin sobre mercado e IA

A coluna Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, traz, neste domingo, uma interessante entrevista com a atriz Letícia Colin.

O Jampa News transcreve a entrevista:

 

“Tenho muitos colegas desistindo da profissão e arrumando outros trabalhos. É assustador. O mercado de audiovisual já foi muito mais aquecido”, me diz Letícia Colin, em uma entrevista por vídeo depois de um longo dia de gravação dos capítulos finais da novela “Garota do Momento“.

A atriz Letícia Colin – Asafe Ghalib/Divulgação

“E essa nem é a pauta do momento, o assunto agora é a inteligência artificial, a gente precisa saber como esses programas, cada vez mais sofisticados, vão ser regulamentados, como esse material vai ser produzido. Hoje em dia, a partir da imagem de uma pessoa, é possível produzir um longa-metragem inteiro, realista, com a voz dela sendo reproduzida”, afirma a atriz.

“Antigamente você conseguia gerar um pequeno curta-metragem, com cenário, figurino, iluminação, detalhes do rosto do personagem, do corpo, caracterização etc, só que sem som. Agora já tem som, ou seja, você pode colocar a voz da pessoa e determinar o que ela vai falar. São muitas questões que vão surgindo junto com os avanços da tecnologia.”

“Eu nunca poderia imaginar que o destino da Zélia fosse esse. É totalmente diferente do que eu queria. Mas faz parte do jogo. A gente vai criando um afeto pela personagem, tendo vontades por ela, não dá para controlar. Tenho que aceitar esse final”, disse a atriz.

Que final? Bom, está prestes a ir ao ar, no fim de junho, mas os tempos mudaram, agora muita gente assiste aos episódios das novelas quando quer, pelo streaming, então os spoilers meio que não têm data de validade, e não sou eu que vou estragar a surpresa de ninguém (mas só por hoje).

“Garota do Momento” foi criada por Alessandra Poggi com roteiro feito por uma equipe de cinco escritores, dirigida por Natália Grimberg. A trama se passa nos anos 1940 e 1950, no Rio de Janeiro, e era toda apoiada em uma mentira arquitetada pela vilã, Maristela, que aproveita a amnésia pós-acidente da personagem de Carol Castro e cria um passado totalmente diferente para ela.

Aí mil dramas, romances, intrigas e questões sociais, como a maioria das novelas. Mas, neste caso, com personagens bem escritos, complexos, que se encontram e se desencontram numa enorme busca por amor, poder e redenção. E o público adorou. E seguiu a novela tanto pela TV aberta quanto pelo streaming e pelas redes sociais.

Na última semana, numa iniciativa inédita da Globo, a emissora criou pequenas cenas, chamadas de ‘microdramas’, disponibilizadas exclusivamente nas redes sociais, com sequências inéditas e histórias paralelas que não foram exibidas na TV aberta, aproveitando o sucesso dos últimos capítulos. Nos melhores dias, “Garota do Momento” deu mais audiência que as novelas das 19h e das 21h, e até do que o Jornal Nacional. Coisa rara para uma trama das 18h.

Ela começou a ser notada um pouco mais tarde, quando justamente deixou a TV Globo e foi para a Band, em 2005, para gravar o folhetim “Floribella”, em que também cantou umas das músicas que fizeram parte da trilha sonora. A telenovela virou um musical, o primeiro de muitos na carreira desta atriz talentosa, linda, versátil, inteligente e que agora, aos 35 anos, já é uma das grandes estrelas do Brasil.

E essa é a segunda vez que eu e ela nos encontramos, neste mesmo espaço. Em fevereiro de 2011, ela foi o destaque de uma reportagem com “a nova safra de jovens atrizes do cinema brasileiro”. Juntamos cinco meninas que despontavam na profissão em um casarão tombado no bairro do Ipiranga, em São Paulo, onde foram fotografadas por Márcio Simnch e entrevistadas por mim, para falar sobre seus sonhos, projetos, medos, dramas, fama e ídolos.

Quando reencontro Letícia 14 anos depois, e relembro essa história, ela imediatamente se recorda da foto, ela sentada no janelão da casa, com as pernas para o lado de fora e olhando o horizonte. Me pergunta quem são as outras quatro jovens atrizes na matéria. Leio seus nomes: Olivia Torres, Juliana Schalch, Thais Muller e Branca Messina. Ela sabe o que todas estão fazendo, nenhuma desistiu da profissão.

Na época, Letícia estava em cartaz no musical “Hair”, tinha dois filmes prontos esperando estrear e ia começar a gravar uma novela na TV Record. “Acho ótimo estar na Record. Muita gente tem preconceito, mas é legal estar em um lugar que está mudando a lógica do mercado”, me disse naquela reportagem. Contou também que adorava ter obrigação. “Sou capricorniana”, justificava.

A produção atualizava os principais temas do texto original —erotismo, moral burguesa, amor versus poder— para o público do século 21. Letícia era a “bonitinha” do título, uma menina rica chamada Maria Cecília, cujo pai, um empresário poderoso e mau-caráter, a oferece em casamento para o protagonista, Edgard, um funcionário da fábrica, em troca de muito dinheiro. Mas ele é apaixonado por Ritinha, personagem de Leandra Leal, e o conflito o consome.

E desde então ninguém mais conseguiu parar de prestar atenção nesta atriz de rosto forte, voz potente e capacidade de moldar seu visual completamente para cada personagem a que se entrega de corpo e alma.

“A gente tem esse foco constante em relacionamento, no afeto ou no desejo, acho um pouco superestimado isso na nossa cultura. Eu também sou vítima dessa dramaturgia, dessa ideia de que haveria algo ideal, um pote de ouro nos esperando lá no fim e acho isso muito danoso”

Letícia Colin

atriz

Foi assim com a prostituta Rosa, da novela “Segundo Sol“, de 2018; Amanda, a médica viciada em crack da minissérie “Onde Está Meu Coração”, de 2021, que rendeu uma indicação ao Emmy Internacional de Melhor Atriz; Manuela, a estilista em depressão pós-parto na série “Sessão de Terapia”, do mesmo ano, e Vanessa, sua primeira vilã de novela, em “Todas as Flores”, de 2022.

“É muito bom para mim poder desovar a hipersensibilidade que eu tenho, que trato há anos na terapia. Sou muito intensa, em tudo, acho que até por isso consigo acessar emoções dos meus personagens mesmo não tendo passado por nada parecido”, diz ela.

E não é que ela não tenha buscado. Letícia é budista e praticante do candomblé. “A vida vai ficando cada vez mais complexa, né? A gente tem que ir buscando meios para dar um contorno para o lado emocional, que vai ficando cheio de nós. O meu jeito foi esse”, explica.

A atriz Letícia Colin Reprodução/Instagram/leticiacolin

Letícia viveu um grande amor, um romance de quase uma década com o ator, poeta, apresentador e diretor Michel Melamed, hoje com 49 anos. Os dois são os pais de Uri, um menininho de cinco anos que vive em guarda compartilhada desde que o casal se separou, oficialmente, no ano passado.

“A gente já estava separado há bem mais tempo, mas conseguimos manter isso quietinho, sem alarde, uma coisa de que eu tenho muito orgulho de ter feito. E nos damos muito bem, conseguimos ficar amigos, nos falamos todo dia. E eu amo o Michel até hoje, muito, muito mesmo”, afirma.

Desde que ficou solteira, Letícia decidiu cuidar mais de si, do corpo e da mente, assim como de sua família, de seu filho e de seus pais. “A gente tem esse foco constante em relacionamento, no afeto ou no desejo, acho um pouco superestimado isso na nossa cultura. Eu também sou vítima dessa dramaturgia, dessa ideia de que haveria algo ideal, um pote de ouro nos esperando lá no fim e acho isso muito danoso”, diz.

A estreia não tem data exata, mas será em São Paulo, no segundo semestre deste ano. Vai ser a estreia de Letícia como produtora de um espetáculo grande, uma novidade na carreira da atriz que, no mínimo, significa uma quantidade muito maior de trabalho e preocupações.

Pergunto, no final da conversa, como ela se vê no futuro, só para saber se ela dá uma pista de por que caminhos ainda pretende se aventurar, se sonha com mais um casamento, outros filhos, essas coisas que dá um pouco de vergonha de perguntar para todas as mulheres na casa dos 30 anos, mas que, na verdade, todo mundo quer saber. Mas Letícia não é uma mulher como as outras, nem de 30 anos, nem de idade nenhuma.

“Eu tenho um amor platônico por uma vida totalmente diferente da que eu levo. Queria uma casa na serra, num lugar muito tranquilo em que eu pudesse acompanhar meu filho se desenvolver. Nesse sonho eu cozinho e tenho tempo de escolher cada ingrediente. Eu sou muito sagaz na cozinha, aquela alquimia toda faz sentido para mim. Flerto com isso há muitos anos, mas tenho consciência de que é uma ficção. Uma ficção saudável.”

 

Fonte: Folha/UOL

Foto/capa: Reprodução/Instagram

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