A mentira da RAM irrelevante: como o marketing matou a memória das placas de vídeo
Por que gamers estão preferindo uma placa de 2017 a modelos recém-lançados? O número de gigabytes voltou ao centro da discussão — e não é por acaso.
Durante anos, um bordão técnico foi repetido quase como verdade absoluta: “Mais RAM não significa mais desempenho.” Era o argumento padrão em vídeos de análise, fóruns de hardware e debates especializados — e até fazia sentido, em um tempo em que os limites de performance estavam mais ligados à velocidade da memória, à largura do barramento ou à eficiência do chip gráfico.
Mas em 2025, essa máxima virou peça de museu. A nova realidade dos jogos de PC expôs o que muitos usuários já sabiam na prática: a quantidade de memória — especialmente a VRAM — agora é um gargalo real. E o mercado, em vez de acompanhar essa demanda crescente, parece ter adotado uma estratégia que beira o descaso.
A nova polêmica vem das recém-lançadas placas RX 9060 XT, da AMD, que chegaram ao mercado com apenas 8 GB de VRAM. Em uma imagem viral no Reddit, um Obi-Wan desesperado grita para a AMD: “Você deveria derrotá-los, não se juntar a eles!” — numa crítica direta à escolha da empresa de repetir os passos da rival Nvidia, que já havia lançado a RTX 4060 com a mesma limitação.
A ironia é dolorosa: jogos populares de 2025 como The Last of Us Part I, Hogwarts Legacy e Starfield exigem facilmente mais de 10 GB de VRAM em 1080p — a resolução padrão da maioria dos jogadores. O resultado? Travamentos, texturas em baixa resolução e desempenho inconsistente. Tudo isso em placas chamadas de “nova geração”.
Diante disso, o passado passou a parecer mais promissor que o presente. A GeForce GTX 1080 Ti, lançada em 2017 com 11 GB de VRAM, virou símbolo de resistência e inteligência técnica. Nos fóruns e redes sociais, gamers exaltam a “lenda” e dizem considerar upgrades para essa velha guerreira — em vez de investir nas “novidades limitadas” que o mercado tenta empurrar.
E não é só nostalgia: a 1080 Ti roda praticamente todos os jogos modernos em 1440p, sem IA, sem DLSS, sem promessas vazias — e com estabilidade. Em outras palavras, ela entrega o que os modelos atuais muitas vezes não conseguem: memória suficiente para o jogo funcionar.
É uma contradição brutal: a tecnologia avança, mas os produtos que chegam às lojas parecem regredir. Ao priorizar margens de lucro e segmentação artificial de mercado, fabricantes lançam GPUs que não atendem às demandas reais dos jogos modernos.
Hoje, a RAM importa. Importa muito. E o consumidor sabe disso.
Se há alguns anos a discussão era sobre “otimização” e “custo-benefício”, agora ela gira em torno de uma questão bem simples: por que comprar uma placa de 2025 se uma de 2017 ainda faz melhor — e por menos?
Redação