Politica

Bolsonaro mira TSE para justificar reuniões golpistas e se distancia até de sua defesa

Quem assistiu ao depoimento de Jair Bolsonaro (PL) ao STF (Supremo Tribunal Federal) no processo da trama golpista ouviu o ex-presidente afirmar que teria discutido alternativas após a derrota eleitoral com comandantes militares, como estado de sítio e de defesa, depois de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) aplicar uma multa milionária ao seu partido –que tinha pedido para invalidar os votos de parte das urnas.

Segundo ele, só ocorreu a conversa sobre “essas outras hipóteses constitucionais tendo em vista o TSE ter fechado as portas para a gente com aquela multa”.

Ao buscar rebater as acusações no Supremo, entre as quais de tentativa de golpe e abolição do Estado democrático de Direito, o ex-presidente também tem afirmado que a corte teria sido disfuncional e parcial na condução da eleição de 2022.

Além de argumentar que há uma série de nulidades processuais, seus advogados sustentam que não há provas que conectem Bolsonaro ao 8 de Janeiro, que ele não assinou nenhum decreto prevendo medidas como estado de sítio e que as condutas descritas na denúncia contra o ex-presidente não chegam a configurar crime.

Não menciona, por sua vez, a multa aplicada ao PL tampouco a atuação do TSE. Classifica as falas de Bolsonaro sobre as urnas como opinião, mas evita fazer maiores considerações a respeito. A Folha perguntou à defesa de Bolsonaro se gostaria de comentar tais diferenças de discurso, mas não houve resposta.

Apesar de a atuação do TSE não estar em julgamento, ela tem sido constantemente trazida à tona por Bolsonaro –que segue explorando inclusive sua bandeira de questionamento à confiança das urnas.

Renato Stanziola Vieira, que é advogado e doutor em direito processual penal pela USP, afirma que não se sustenta o argumento de Bolsonaro de que, por causa da multa, ele poderia procurar as Forças Armadas.

“Ele não escolheu seguir pelo mundo jurídico. Ele claramente fez um divórcio dos caminhos processuais cabíveis e previstos e decidiu partir dali para o rompimento das instituições”, diz. Por isso, Vieira entende que esse é um ponto que não seria muito estratégico para a defesa técnica explorar.

No fim de novembro de 2022, após semanas de atos clamando por intervenção militar pelo país, o PL entrou com uma ação pedindo a invalidação dos votos de parte das urnas alegando mau funcionamento. Apesar de o problema alegado ter ocorrido em ambos os turnos, a sigla mirava apenas o segundo turno da eleição presidencial.

Moraes multou o partido por litigância de má-fé, acusando-o de tentar tumultuar a democracia. O recurso da sigla para revogar a multa de quase R$ 23 milhões foi negado pelo plenário do TSE em dezembro.

Bolsonaro também vem alegando em discursos que a eleição de 2022 teria sido disfuncional e que sua campanha teria sido prejudicada.

“Eu fui tolhido. O maior prejuízo que eu tive, no meu entender, foi não poder usar imagens do 7 de Setembro”, disse ele no interrogatório no STF, apontando ainda a proibição de realizar lives no Palácio do Alvorada ou de usar discurso na Embaixada em Londres durante viagem para o enterro da rainha Elizabeth 2ª.

Essas decisões foram concedidas em caráter provisório pelo tribunal após candidatos rivais ingressarem com ações contra Bolsonaro, sob alegação de abuso de poder.

 

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