COLUNA GISA VEIGA – A força do Nordeste
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. A frase foi citada por Euclides da Cunha na obra “Os sertões”. Parodiando o festejado autor, eu digo que o Nordeste é forte. Muito forte. A ponto de decidir uma eleição, quando se dispõe a isso, ou a cancelar quem “tira onda” com os nordestinos.
A backing vocal de Zezé di Camargo e Luciano, Bianca Alencar, quis lacrar na internet e acabou demitida. Ela comparou a comida nordestina a uma lavagem de porco e exaltou a comida dos restaurantes paulistanos. Detalhe: ela fez sua refeição durante viagem de trabalho, na estrada, o que descartaria, em princípio, qualquer comparação até mesmo com os restaurantes mais conceituados da própria região, situados nas principais cidades.
Se eu até chego a duvidar que a reação de Zezé deve-se ao respeito genuíno da banda pelo Nordeste, devo acreditar na competência de sua equipe de marketing, que agiu rápido, orientou a esposa de Zezé di Camargo, Graciele Lacerda, a gravar um vídeo dizendo que adora comida nordestina, e a dupla a tomar a decisão mais dura de dispensar a moça do grupo.
Ninguém é obrigado a gostar de comidas típicas, seja do Nordeste ou de qualquer outra região do país. Eu, por exemplo, não gosto de buchada. Mas é iguaria para muitos. O fato de não gostar não dá passe livre para xingamentos a toda uma região que, volto a repetir, é forte, viu? Muito forte.
A banda sentiu a segura reação do Nordeste ao ouvir que, num show programado para uma cidade da região, a população levaria ovos para atirar contra a cantora, segundo foi divulgado pelas redes sociais. Não é uma atitude louvável. Acho que uma boa vaia, acompanhada de “fora, Bianca”, resolveria. Resultado, ainda não demitida, ela foi dispensada de comparecer apenas àquele show, o que, para mim, é uma indicação de que não havia a menor disposição da banda de afastá-la definitivamente de suas funções e que houve, isso sim, orientação de profissionais.
O vídeo desrespeitoso e ofensivo caiu como uma bomba nas redes sociais, provocando reações diversas de internautas, personagens de destaque e influenciadores da região. A paraibana Roberta Miranda, artista consagrada, postou um vídeo nas redes sociais em que se diz “muito chateada” com a fala da moça, que teria lhe afetado “profundamente”. Expôs a realidade de muitos nordestinos e falou de sua própria história de superação.
Internautas e pessoas comuns de diversas partes do Nordeste também expressaram indignação e pediram respeito à cultura regional. Foi uma enxurrada de reações que não poderia passar em branco, sem uma consequência. Bianca gravou outro vídeo para as plataformas digitais tentando se justificar. A velha desculpa de que “não quis ofender ninguém”, mesmo tendo usado claramente palavras ofensivas.
Toda ação leva a uma reação. Bianca sentiu o peso de suas palavras, e agora sente o peso que o Nordeste tem.
A crítica da moça é reflexo do preconceito mais amplo contra os nordestinos. Discriminá-los, para quem não sabe, é considerado crime, no Brasil, podendo ser enquadrado como racismo ou xenofobia, dependendo do contexto.
Finalizo o texto com o comentário de um internauta a uma postagem de um portal cearense: “A Bíblia diz, em Tiago 3:5: ‘Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva’”.
Gisa Veiga