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Motim bolsonarista fragiliza Motta, exige intervenção de Lira e põe em risco controle na Câmara; veja vídeo

ocupação do plenário da Câmara dos Deputados pelos bolsonaristas, só resolvida após o ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) intervir, expôs publicamente o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB).

(Veja AQUI vídeo sobre via crucis de Motta para chegar à sua cadeira de presidente)

Parlamentares avaliam que sua liderança saiu fragilizada e põe em risco a condução dos trabalhos e os planos de reeleição para o cargo em 2027.

Aliados admitem que Motta chegou muito perto de perder a governabilidade da Casa, ao quase não conseguir ocupar a cadeira da presidência da Câmara.

Interlocutores de Motta ponderam que não faria sentido ele bater boca publicamente com parte da Câmara e que o objetivo foi cumprido, com a retomada da cadeira de presidente e a abertura dos trabalhos.

Não houve, contudo, votação, já que dois importantes partidos da sua base de apoio, o PP e o União Brasil, também estavam em obstrução.

Ao chegar à Câmara nesta quinta (7), Motta contemporizou a atuação de Lira. “É um amigo, uma pessoa que tem colaborado muito com o país. […] É natural que, em momentos de tensão, todos aqueles que querem o bem da Casa se unam para construir as soluções. O presidente Arthur participou de alguns diálogos ontem, como todos os líderes participaram”, disse. “Foi uma tensão que, acredito, a Casa não viveu na sua história recente, então é natural que todos possam se juntar e, sempre buscando através do diálogo, resolver.”

O entorno de Motta também contrapõe a situação à do Senado, onde o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) tinha aberto mão de retomar o plenário e faria a sessão desta quinta de forma remota, pela internet –artifício utilizado apenas na pandemia. Após Motta presidir a sessão do plenário da Câmara, Alcolumbre também conseguiu convencer os bolsonaristas a desocuparem a mesa do Senado nesta quinta.

Dois integrantes da cúpula da Câmara, no entanto, minimizam o episódio e se queixaram da postura de Alcolumbre. Segundo um deles, o presidente do Senado tem ficado à sombra da crise causada pela prisão de Bolsonaro e não atuado diretamente para dar uma resposta ao Judiciário.

Motta procurou os bolsonaristas à tarde, disse que não negociaria sob chantagem e que uma pauta poderia ser construída somente após eles desocuparem o plenário. Insistiu também que retomaria a cadeira e faria a sessão, mesmo sem acordo. A reunião foi cordial, mas ruim, na visão dos bolsonaristas.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), saiu no meio da conversa, ao ouvir que a sessão seria realizada mesmo com o motim, e foi procurar diretamente Lira. As negociações só destravaram a partir daí, quando o ex-presidente da Casa tomou as rédeas para negociar o pacote de demandas do PL.

O discurso geral, entre os deputados, foi de que isso demonstrou fraqueza por parte do atual presidente e que era um gesto muito ruim para o resto dos colegas e a sociedade.

O presidente da Câmara marcou sessão para esta quinta, com o objetivo de retomar os trabalhos. A tentativa é de mostrar força e evitar que uma medida provisória que agiliza a fiscalização em benefícios previdenciários caia na próxima semana por falta de votação.

O episódio, no entanto, fragilizou ainda mais a imagem de Motta, que já era contestado internamente por acordos não cumpridos, como a promessa de que o PT teria a relatoria do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 e a votação de surpresa do projeto que derrubava o decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Ambas arranharam a relação com o governo Lula (PT).

Integrantes do governo que, inicialmente, haviam celebrado a postura de Motta de convocar a sessão, reconhecem, nos bastidores, que o presidente da Câmara não conduziu bem esse processo, por ter titubeado diante da pressão dos bolsonaristas.

Um aliado de Lula afirma que o episódio desta quarta mostrou que Motta dificilmente conseguirá retomar força e controle no plenário, e que a atuação de Lira nos bastidores deverá ser algo frequente.

Na manhã desta quinta (7), a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais) elogiou a postura de Motta e Alcolumbre, afirmando que eles agiram “corretamente diante do motim da oposição”. “Retomaram o comando das Casas deixando claro que os interesses do país e do povo não podem ser submetidos às chantagens dos aliados de Jair Bolsonaro”, escreveu numa rede social.

Havia também contestações à dificuldade dele de manobrar as divergências entre esquerda e direita, que o apoiaram na eleição. Motta, segundo seus aliados, tem perfil mais conciliador do que Lira. Busca evitar embates, dialogar mais e conciliar os interesses da maioria, o que o torna alvo de críticas de ambos os lados.

 

Folha/UOL

Foto: Lula Marques/Agência Brasil

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