Tem 37 anos mas já fala “quase 40”, porque acha que parece mais velho do que é. “O Olavo tem 43 anos na novela”, diz. “Todo mundo acha que eu sou mais velho por causa do meu tamanho, da voz, sei lá. Eu mesmo, quando me vejo no vídeo, não vejo um cara de 37 anos.”
Com 1,88 m, forte, barba cerrada e um rosto que parece esculpido à mão, especialmente o nariz, grande e ossudo, que deixa seu perfil muito marcado, além da mandíbula grande e lábios e olhos mais delicados, tem uma estampa que quem vê não esquece nunca mais.
Estranho pensar que ele passou despercebido por tanto tempo, apesar de trabalhar como ator há 17 anos. Foi só no ano passado que seu nome e sua figura ganharam os holofotes, quando foi premiado no Festival de Cannes de 2024 como melhor ator revelação pelo filme “Baby”, de Marcelo Caetano.
Teodoro vive o michê Ronaldo no longa, que vira interesse amoroso e parceiro do protagonista, Wellington, um menino recém-saído de uma prisão juvenil que não tem para onde ir, papel de João Pedro Mariano. 
A relação de Wellington e Ronaldo ganha muitos contornos e profundidade, não são dois estereótipos, e sim personagens complexos e bem construídos. O filme passou por 50 festivais antes de entrar em cartaz no começo do ano, e desde junho está disponível para streaming no Telecine, na Apple TV e no Globoplay.
“Ronaldo é um cara muito complexo, sombrio, ele não tem os acessos que o Olavo tem, não vai a festas, vive na marginalidade, na periferia. O Olavo é um cara solar, que vai te levando no sorriso”, diz. “Ele tem uma malandragem pedagógica, tipo assim ‘eu vou te ensinar a sobreviver nessa terra'”.
Na versão original, de 1988, o personagem Olavo Jardim entrou no capítulo 60, e foi interpretado pelo ator Paulo Reis. Nesta versão, de Manuela Dias, o Olavo de Ricardo Teodoro está na trama desde o 5º capítulo. É ele o “grande fotógrafo” a quem César Ribeiro apresenta Maria de Fátima, a jovem vigarista interpretada por Bella Campos.
“Minha primeira cena foi com o Cauã e a Bella, o César arma pra fingir que o Olavo é um fotógrafo famoso, contrata estúdio, luz etc e quando a Fátima volta lá para ver as fotos, o Olavo já dá a dica ‘esquece esse cara, eu já vi ele fazer isso com um monte de meninas e depois sumir da vida delas’”, lembra o intérprete. “Ele manda um ‘bem vinda ao Rio de Janeiro’, porque respeita as meninas e é muito sério no trabalho dele. Se os outros acham que ele é uma piada não é problema dele”.
A dupla César e Olavo é o par com mais química desta nova versão de “Vale Tudo”. Nem os casais mais apaixonados ou os antagonistas mais cheios de ódio vivem momentos tão bons de se ver quanto os dois cafajestes cariocas que pegam praia no meio da semana e bolam planos sempre mirabolantes.
Talvez o momento que melhor ilustra a relação cheia de samba no pé desses dois amigos trambiqueiros de talento limitado é uma cena que foi ao ar uns 15 dias atrás. César e Olavo decidem contratar um assistente, alguém que faça o trabalho duro no estúdio, como pegar a pizza que eles pedem ou o açaí que César adora.
Só de pensar em como seria ter um terceiro elemento na relação dos dois, ambos chegam à conclusão de que o assistente vai acabar sendo um folgado que só vai atrapalhar a dinâmica de não fazer nada sem testemunhas. Acabam com a vaga antes mesmo de abrir.
“Mas foi o parto do bebê reborn que deu o clique, sabe? Que mostrou o que a parceria daqueles dois personagens poderia ser”, conta Teodoro, sobre uma trama que surgiu e desapareceu, em que o personagem do Cauã convence o do Teodoro a comprar as bonecas ultrarrealistas para revender e ganhar dinheiro.
Só que, em um determinado momento, um deles rompe a bolsa plástica em que elas vêm embaladas, como uma placenta, e os dois amigos encaram a situação como se tivessem fazendo um parto de verdade, como se fazia antigamente, com bacia cheia d’água e várias toalhas.
“A gente estava muito ansioso antes de gravar, mas a resposta do público foi maravilhosa. Os dois levaram totalmente a sério aquela situação surreal, e isso deu o tom para tudo que veio depois”.
César e Olavinho viraram o núcleo cômico de “Vale Tudo”, são deles os melhores diálogos, as situações mais inusitadas. E que, ao contrário do que acontece com o núcleo sério da novela, desses dois ninguém cobra que as situações tenham o menor lastro na realidade. Entre eles, o vale tudo é artístico.
Isso dito, não dá para ignorar que ficou esquisito o personagem ter se revelado um sniper claustrofóbico, que fica preso no elevador do prédio vizinho ao hotel onde foi morta Odete Roitman, com um fuzil na mala, bem na hora em que o combinado entre ele e César era que ele estaria com a mira na vilã.
Quando a entrevista com Ricardo Teodoro aconteceu, nada disso tinha ido ao ar ainda. Ele não tinha nem gravado as cenas finais do seu personagem. E o roteiro da trama já estava sendo mantido em segredo total, cada ator recebia só as suas cenas, com pouca antecedência. Ou seja, se é Olavinho o assassino, nem o ator sabia quando deu essa entrevista.