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Entenda como a casa do BBB é construída para expor os jogadores à loucura e ao sexo

Um participante de reality show não é um herói, como fazem crer os discursos homéricos dos apresentadores. É um ser humano com o desejo subindo pelas paredes, confinado num espetáculo de luxúria e loucura. No caminho entre a fama e o anonimato, estão o sexo e o dinheiro, o paredão e a vitória.

A encruzilhada do Big Brother Brasil, principal produto de entretenimento da TV brasileira, está de volta às plataformas da Globo, nesta segunda-feira, reafirmando o interesse da população por aquilo que se passa na mente humana.

Era quase meio-dia de sexta-feira, e o sol estava de rachar a cuca. A casa que receberá os 22 participantes do BBB 23 fica num lugar ermo, dentro dos Estúdios Globo, em Curicica, na zona oeste do Rio de Janeiro. Tudo ali é tão artificial quanto a grama, que reveste o piso e transforma o ambiente numa estufa.

Descendo o gramado, encontramos a piscina, o espaço mais importante da área externa. Nela, está contida, gota a gota, toda a libido dos “talentos do elenco”, como dizem as agências de marketing. Exercendo fascínio à visão, a borda tem tensão erótica, com espreguiçadeiras onduladas. Ali, pousarão os corpos mais fetichizados do país nos próximos cem dias.

Para a área interior, a produção do programa resolveu adotar, neste ano, o tema viagem. Logo na entrada, fica a sala do viajante. Ao redor do sofá, as paredes têm miniaturas de barcos e trens, um armário para guardar suvenires, um mapa-múndi e seis globos dependurados do teto —que não é baixo, ao contrário dos boatos.

Só há um banheiro, compartilhado entre 22 pessoas desconhecidas. É quase um encontro com amigos numa casa de praia. Já o famoso confessionário tem o fundo preenchido por luzes de LED, que lembram um portal para outra dimensão.

Por fim, os dois quartos se opõem um ao outro, refletindo a formação de dois grupos antagônicos no jogo. Um se chama Deserto, e as paredes, também de lona, pintam um cenário de aridez. Do lado oposto, fica o quarto Fundo do Mar.

As paredes ganham peixes e tubarões —um polvo cai do teto. Equipada com itens de última geração, a cozinha de cor verde-petróleo é o único ambiente do espaço que de fato parece pertencer a um imóvel.

Não é confortável estar na casa do BBB. Com cerca de 1.800 metros quadrados, o ambiente é pequeno, apertado demais para duas dezenas de pessoas. No interior da casa, não há circulação de ar ou luz natural —apenas luz branca. A explosão de cores na parede, por sua vez, dá vertigem, assim como o excesso de quinquilharias espalhados pelos cômodos.

Tudo é proposital, afirma o arquiteto André Scarpa. “É um modo de favorecer a interação das pessoas, é impossível sair de um quarto para o outro sem passar pela sala”, diz ele. “Essa ausência de janelas aflige as pessoas, e o excesso de informação estimula o diálogo dos participantes com o próprio ambiente.”

Se for analisada a dimensão psicológica do reality show, a arquitetura é decerto uma das ferramentas mais poderosas para desorientar o participante dentro da casa. Desse modo, o ambiente estimula as intrigas e os barracos.

Scarpa conta que as dimensões do local não mudaram muito com o tempo, mas atualmente a produção do BBB não se preocupa tanto em esconder as câmeras. Do contrário, agora a tecnologia faz parte do cotidiano dos participantes, que podem fazer fotos com um celular.

“É antes de tudo um ambiente ‘instagramável'”, diz Scarpa. “São muitos estímulos com texturas e cores fortes, um cenário que, ao longo do programa, vai se naturalizando para os seus habitantes.” O excesso de informações, afirma o arquiteto, obriga os participantes a dialogar com o próprio ambiente.

Nesse sentido, nem sempre o excesso de tralhas é prejudicial. Na monotonia do confinamento, às vezes um participante estabelece um vínculo com algum objeto. Um bibelô de cachorro, por exemplo, pode ganhar um nome.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, a arquitetura é só uma das provações à saúde mental dos participantes. Em primeiro lugar, o reality show, como o próprio termo sugere, cria uma tensão entre realidade e encenação. Nesse baile de máscaras, tende a ter mais sucesso quem estabelecer harmonia entre o seu eu e o sujeito representado —o ator e o personagem.

Por isso, o reality show é a experiência estética contemporânea por excelência. Não se trata de um teatro grego, com atores e plateia, mas de um ambiente imersivo, propiciado pela arquitetura. “É um laboratório social perigoso”, afirma Dunker. “A depender do comportamento psíquico de cada um, o confinamento pode ser traumático, com uma exposição de si desmesurada.”

Mas o BBB não seria tão atraente para quem assiste sem a descarga libidinal e a competição narcísica de quem está confinado. O erotismo está naquela piscina, mas também no olho, que simboliza a “espiadinha”, transformando milhões de telespectadores em voyeurs. A exposição é longa, e cada um deve criar estratégias para seduzir o espectador.

Sair da casa do BBB traz uma sensação de alívio. É como voltar à paisagem natural, mesmo não tendo vivido o confinamento. Na saída, um batalhão de influenciadores esperava a vez de entrar na casa. Cada um deles tentando se exibir com seus “lookinhos” coloridos e o comportamento histérico. Eles trilham o mesmo caminho para um dia ser um dos brothers e, depois de sair da casa, talvez lançar a própria linha de perfume íntimo.

“É antes de tudo um ambiente ‘instagramável'”, diz Scarpa. “São muitos estímulos com texturas e cores fortes, um cenário que, ao longo do programa, vai se naturalizando para os seus habitantes.” O excesso de informações, afirma o arquiteto, obriga os participantes a dialogar com o próprio ambiente.

“É antes de tudo um ambiente ‘instagramável'”, diz Scarpa. “São muitos estímulos com texturas e cores fortes, um cenário que, ao longo do programa, vai se naturalizando para os seus habitantes.” O excesso de informações, afirma o arquiteto, obriga os participantes a dialogar com o próprio ambiente.

Nesse sentido, nem sempre o excesso de tralhas é prejudicial. Na monotonia do confinamento, às vezes um participante estabelece um vínculo com algum objeto. Um bibelô de cachorro, por exemplo, pode ganhar um nome.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, a arquitetura é só uma das provações à saúde mental dos participantes. Em primeiro lugar, o reality show, como o próprio termo sugere, cria uma tensão entre realidade e encenação. Nesse baile de máscaras, tende a ter mais sucesso quem estabelecer harmonia entre o seu eu e o sujeito representado —o ator e o personagem.

Por isso, o reality show é a experiência estética contemporânea por excelência. Não se trata de um teatro grego, com atores e plateia, mas de um ambiente imersivo, propiciado pela arquitetura. “É um laboratório social perigoso”, afirma Dunker. “A depender do comportamento psíquico de cada um, o confinamento pode ser traumático, com uma exposição de si desmesurada.”

Mas o BBB não seria tão atraente para quem assiste sem a descarga libidinal e a competição narcísica de quem está confinado. O erotismo está naquela piscina, mas também no olho, que simboliza a “espiadinha”, transformando milhões de telespectadores em voyeurs. A exposição é longa, e cada um deve criar estratégias para seduzir o espectador.

Sair da casa do BBB traz uma sensação de alívio. É como voltar à paisagem natural, mesmo não tendo vivido o confinamento. Na saída, um batalhão de influenciadores esperava a vez de entrar na casa. Cada um deles tentando se exibir com seus “lookinhos” coloridos e o comportamento histérico. Eles trilham o mesmo caminho para um dia ser um dos brothers e, depois de sair da casa, talvez lançar a própria linha de perfume íntimo.

Nesse sentido, nem sempre o excesso de tralhas é prejudicial. Na monotonia do confinamento, às vezes um participante estabelece um vínculo com algum objeto. Um bibelô de cachorro, por exemplo, pode ganhar um nome.

Segundo o psicanalista Christian Dunker, a arquitetura é só uma das provações à saúde mental dos participantes. Em primeiro lugar, o reality show, como o próprio termo sugere, cria uma tensão entre realidade e encenação. Nesse baile de máscaras, tende a ter mais sucesso quem estabelecer harmonia entre o seu eu e o sujeito representado —o ator e o personagem.

Por isso, o reality show é a experiência estética contemporânea por excelência. Não se trata de um teatro grego, com atores e plateia, mas de um ambiente imersivo, propiciado pela arquitetura. “É um laboratório social perigoso”, afirma Dunker. “A depender do comportamento psíquico de cada um, o confinamento pode ser traumático, com uma exposição de si desmesurada.”

Mas o BBB não seria tão atraente para quem assiste sem a descarga libidinal e a competição narcísica de quem está confinado. O erotismo está naquela piscina, mas também no olho, que simboliza a “espiadinha”, transformando milhões de telespectadores em voyeurs. A exposição é longa, e cada um deve criar estratégias para seduzir o espectador.

Sair da casa do BBB traz uma sensação de alívio. É como voltar à paisagem natural, mesmo não tendo vivido o confinamento. Na saída, um batalhão de influenciadores esperava a vez de entrar na casa. Cada um deles tentando se exibir com seus “lookinhos” coloridos e o comportamento histérico. Eles trilham o mesmo caminho para um dia ser um dos brothers e, depois de sair da casa, talvez lançar a própria linha de perfume íntimo.

Foto: Paulo Beloti/Globo

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