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Apreensões de drogas, armas e munições batem recorde na Paraíba

Todos os anos, fuzis, munições, explosivos e toneladas de drogas passam pelas rodovias federais da Paraíba ou são escondidos em galpões no estado. Somente no primeiro semestre deste ano, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu mais de 1,7 tonelada de cocaína, sendo 1,3 tonelada só em junho — volume aproximadamente 17 vezes maior que o total registrado em 2024, que fechou com 77 kg. No mesmo ritmo, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) retirou de circulação, apenas no ano passado, 1,54 tonelada de drogas, 98 armas de fogo e 2.580 munições, contra 650 kg de entorpecentes, 675 balas e 23 armamentos em 2023.

E, se os números impressionam, o que mais chama a atenção é o avanço das operações contra o crime organizado no estado, que estão mais rápidas e articuladas. À frente da Draco, unidade da Polícia Civil da Paraíba (PCPB), o delegado titular Diego Beltrão destaca que as ações têm se tornado mais precisas e estratégicas.

Com base em inteligência policial, monitoramento constante e articulação entre diferentes forças de segurança, o enfrentamento do crime organizado passou a mirar mais alto e de forma decisiva. “Estamos fazendo operações cirúrgicas, com grandes apreensões direcionadas, cada dia mais, à cúpula do crime organizado. Não adianta combater apenas os operadores de baixo se você não atingir a estrutura”, explica.

As estatísticas da Draco ilustram bem essa afirmação: em 2024, foi apreendida 1,4 tonelada de maconha e 92,7 kg de cocaína, as duas drogas que mais circulam pelo estado, segundo o órgão. Aliás, juntas, elas representaram um prejuízo superior a R$ 9 milhões aos traficantes, sendo R$ 5,5 milhões apenas com a cocaína.

Como parte dessa estratégia, a Draco também tem atuado de forma preventiva, ainda que essa não seja sua atribuição principal, que cabe à Polícia Militar do estado (PMPB). Na prática, o trabalho investigativo permite desmantelar ações criminosas antes mesmo que elas aconteçam. E é nesse ponto que a inteligência policial faz toda a diferença. Diego Beltrão cita como exemplo um caso ocorrido no município de Cubati, onde sete criminosos acabaram morrendo durante um confronto com a polícia.

“Eles estavam prontos para realizar um assalto em Taperoá, mas, por conta da investigação, conseguimos identificar e chegar a eles antes que efetuassem a ação criminosa”, conta.

 

Nas rodovias

Enquanto a Draco investiga, nas estradas, o trabalho da PRF também não para. A presença nas BRs que cruzam o estado tem sido constante e os resultados mostram isso. Como destaca Francimuller Nascimento, agente responsável pela Comunicação Social da instituição, embora a rotina seja marcada por abordagens cotidianas, o trabalho minucioso dos agentes tem permitido interceptações que ajudam a desarticular o tráfico de drogas por aqui, a exemplo da ação ocorrida no mês passado.

“A Paraíba não tem um histórico de grandes apreensões, mas, neste ano de 2025, por conta dessa apreensão vultosa de 1.310 kg de cocaína em uma carreta, a gente bateu um recorde que chama muito a atenção”, reflete.

Foi justamente essa a operação que entrou para a história como a maior apreensão de cocaína já registrada na Paraíba. Aconteceu na noite de 20 de junho, no km 127 da BR-101, em Alhandra, durante a Operação Festejos Juninos. As manobras suspeitas de um caminhão levaram a equipe da PRF a pará-lo e, ao abordar o veículo, chamou a atenção da polícia não só o nervosismo do motorista, mas também algumas inconsistências sobre a carga.

No compartimento, os agentes encontraram 63 caixas de papelão com centenas de tabletes de cocaína, escondidos entre outras mercadorias. O condutor, um homem de 40 anos, natural de São Paulo (SP), foi preso em flagrante. Segundo Francimuller, cargas como essa costumam partir de estados como Paraná e São Paulo, mas também de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, evidenciando como a Paraíba acaba sendo “atravessada” por rotas interestaduais.

Rotina vigilante

No dia a dia, o trabalho da PRF é marcado por uma rotina que combina vigilância e olhar atento. Tendo em vista que ainda não se utilizam cães farejadores por aqui, as equipes dependem da percepção treinada dos próprios agentes, atentos a qualquer comportamento que fuja do padrão. “Você pode, muito bem, abordar um veículo por uma questão de trânsito e isso evoluir durante a entrevista, com a pessoa caindo em contradição e demonstrando nervosismo, sem falar na verificação que fazemos no próprio carro”, detalha o agente.

De forma complementar, o monitoramento por vídeo, com câmeras instaladas em pontos estratégicos das rodovias — como a rede dos Centros Integrados de Comando e Controle (CICCs) —, também é uma ferramenta importante nesse processo. Voltadas principalmente à segurança viária, os equipamentos registram desde ultrapassagens proibidas até o uso do celular ao volante, mas também podem ajudar a detectar movimentações suspeitas.

“Essas câmeras, ao identificar algum comportamento dissonante da normalidade, vão chamar a atenção e, eventualmente, podem suscitar algum tipo de abordagem pelas nossas equipes”, completa Francimuller.

É assim que muitas apreensões têm início, com um simples desvio de conduta podendo terminar em flagrante e prisão.

 

Articulação entre as forças de segurança

Independentemente de qual seja o órgão envolvido, o sucesso de qualquer operação contra o crime organizado depende da articulação entre as forças de segurança. Tanto Francimuller, da PRF, quanto Diego Beltrão, da Draco, reforçam a importância dessa sinergia no trabalho investigativo e de campo. Do lado da Polícia Civil, o delegado é direto:

“Hoje, não se fala em combater o crime organizado se não houver ajuda mútua, uma troca de informações entre as unidades de segurança”.

Essa integração envolve desde outras delegacias ligadas à Polícia Civil até a Polícia Militar e órgãos federais. Já Francimuller ressalta a cooperação como uma característica intrínseca ao trabalho da PRF. “Embora a gente não faça operações conjuntas fora das rodovias federais, por questões legais, compartilhamos informações nas BRs. Trabalhamos em conjunto para que a sociedade, como um todo, ganhe”, sublinha.

Segundo ele, essa troca de dados é fundamental, sobretudo para as grandes apreensões, que envolvem tráfico interestadual e ações coordenadas entre os estados.

Cobertura ampla

Nesse sentido, um dos fatores que têm fortalecido o combate ao crime no território paraibano é a descentralização da atuação da Draco. Conforme detalha o delegado titular, a unidade conta, hoje, com bases estrategicamente posicionadas em todo o estado. São três ao todo: em João Pessoa, Campina Grande e no Sertão.

Para Diego, essa configuração tem garantido mais eficiência no enfrentamento do crime, já que as operações não ficam concentradas somente na capital, como costuma acontecer. “Em outros estados, preferem focar apenas na capital e acabam não tendo um olhar para o interior”, argumenta.

Além da presença territorial, ele também destaca, como avanços importantes, o reforço no efetivo — hoje, com 33 policiais —, o aprimoramento do armamento e o investimento em tecnologia — fatores que, juntos, ampliaram significativamente a capacidade de resposta da delegacia especializada da Polícia Civil.

Entretanto, mesmo com esse salto operacional, o delegado aponta um obstáculo que, em sua avaliação, ainda limita o combate ao crime: a própria legislação. Segundo ele, como a estrutura dessas facções é dinâmica, a ponto de se infiltrar nas instituições, faz-se necessário agir mais rapidamente, inclusive do lado da Justiça.

“A complexidade do crime organizado exige respostas legais que vão além do Direito Penal tradicional. É preciso fornecer à Polícia Judiciária instrumentos que permitam uma atuação rápida, eficaz e incisiva contra a estrutura dessas organizações. A aplicação branda da lei e a impunidade só favorecem a continuidade das atividades criminosas”, observa Diego.

 

Texto de Priscila Perez para o Jornal A União

Foto de Mart Production/Pexels 

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