Robótica na rede pública transforma escolas em laboratórios de inovação e cidadania em João Pessoa
Com torneio municipal e mais de 11 mil estudantes já formados, projeto de robótica alia tecnologia, meio ambiente e protagonismo infantil nas escolas da capital
Em João Pessoa, o som das teclas, o clique dos sensores e o encaixe preciso das peças de Lego® se transformaram em instrumentos de cidadania e inovação. Durante o mês de junho, alunos da Rede Municipal de Ensino participaram do 2º Torneio Pessoense de Robótica, promovido pela Prefeitura, através da Secretaria de Educação e Cultura (Sedec), consolidando um modelo educacional que une tecnologia, ciência e trabalho em equipe desde os primeiros anos escolares.
O torneio, mais do que uma disputa, é a culminância de um processo educativo que envolve milhares de crianças e adolescentes em um universo onde lógica, criatividade e empatia caminham juntas. Seguindo a metodologia STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), os estudantes são incentivados a pensar soluções reais para desafios globais, com base na programação e na robótica educacional.
Este ano, a temática do torneio foi “Submerge” e convidou os alunos a desenvolver projetos relacionados à vida marinha, enfrentando questões como poluição dos oceanos, descarte de lixo e aquecimento global. As crianças, com idades entre 8 e 14 anos, não apenas construíram robôs, mas apresentaram ideias inovadoras com embasamento científico, maquetes, sensores e programação.
“O torneio é uma celebração da ciência e da imaginação. As crianças passam meses desenvolvendo seus projetos com os professores, e o resultado é um espetáculo de criatividade e engajamento”, afirmou Diego Sérgio, diretor de Tecnologia da Informação e Comunicação da Sedec.
Com a estrutura da maior competição de robótica educacional do mundo — a First® Lego® League (FLL) —, João Pessoa já sedia uma etapa própria da disputa graças ao crescente número de equipes e ao forte investimento da Prefeitura. Segundo o secretário municipal de Ciência e Tecnologia, Guido Lemos, mais de 11 mil alunos já foram capacitados em robótica e programação, com acesso gratuito a kits Lego®, impressoras 3D, cortadoras a laser e laboratórios Maker.
“Essa é uma das maiores conquistas da atual gestão: democratizar o acesso à tecnologia e formar um ecossistema de inovação desde o ensino fundamental”, destacou.
A secretária executiva de Educação e Cultura, Luciana Dias, aponta os impactos diretos nas salas de aula. “Os alunos ficam mais atentos, participativos e curiosos. Muitos começam a pesquisar temas avançados e demonstram melhora até no ambiente familiar”, ressaltou.
Exemplo disso é a equipe Tortuguitas, da Escola João Medeiros, no Bairro dos Novais. Orientadas pelo professor Manoel Venâncio, as alunas criaram um projeto para recolher lixo nos oceanos e proteger tartarugas-marinhas. “Elas passaram a se preocupar com o planeta e perceberam que também têm o poder de mudar as coisas”, disse o professor.
Além do avanço pedagógico, os relatos destacam mudanças comportamentais e sociais. Segundo a professora Rayssa Vilar, muitos estudantes antes tímidos ou desmotivados agora se destacam. “A autoestima melhora, eles se sentem parte de algo importante. Na robótica, o erro é parte do processo e isso muda a mentalidade dos alunos”, explicou.
Com apenas 10 anos, a estudante Kétilly Júlia sintetizou o espírito da robótica: “Aprendi a programar e me divertir com minhas amigas. Tudo é melhor quando a gente faz junto”. Sua colega Mayra Ferreira, programadora da equipe, compartilhou o aprendizado. “Gosto de ensinar. Quando minha amiga não sabia programar, fizemos juntas”.
O torneio é avaliado por juízes de diversos estados, garantindo imparcialidade. Para o professor Artur Gustavo, um dos avaliadores, o critério vai além da técnica. “Contamos também a criatividade, o trabalho em grupo e a clareza com que os alunos explicam seus projetos”, pontuou. A estudante de Sistemas de Informação Maria Eduarda de Brito Oliveira, também juíza, destacou o impacto: “Ver o brilho nos olhos das crianças é emocionante. Elas já pensam como verdadeiras inovadoras”.
Mais do que um evento isolado, o torneio representa uma política pública consistente, que articula formação docente, tecnologia de ponta e currículo integrado. Em João Pessoa, robôs montados por crianças do ensino fundamental já sinalizam um futuro onde educação pública é sinônimo de criatividade, inclusão e transformação.
Enquanto constroem submarinos de Lego® e escrevem suas primeiras linhas de código, essas crianças estão, na verdade, montando o próprio futuro — um futuro coletivo, onde a escola é o ponto de partida para mudar o mundo.