domingo, dezembro 7, 2025
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Será que as redes sociais são “desmerdificáveis” ou não há mais salvação?

Transcrevemos, a seguir, artigo do escritor e humorista Ricardo Araújo Pereira sobre as redes sociais, publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo e disponível no site da Folha:

Será que as redes sociais são “desmerdificáveis” ou não há mais salvação?

O escritor Cory Doctorow cunhou o termo “enshittification” —ou, em português, “merdificação”— para definir o processo que faz com que as plataformas digitais fiquem cada vez piores.

Sem querer cair na fanfarronice, devo dizer que a descoberta gerou em mim o fenômeno da “quesurprezificação”, o menos estudado processo através do qual eu grito “que surpresa!” sempre que alguém assinala o óbvio.

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Imagem: Reprodução/Luiza Pannunzio/Folhapress

Segundo Doctorow, as grandes plataformas começam por apresentar uma oferta de qualidade para atrair usuários, depois passam a servir-se deles para beneficiar os anunciantes, e no fim as coisas ficam piores (ou seja, merdificam-se) tanto para usuários como para anunciantes, a fim de beneficiar os acionistas das plataformas.

No tempo em que as redes sociais eram consideradas uma força benigna de promoção e reforço da democracia, elas já tinham a mesma inclinação para suprimir a concorrência, obter e comercializar dados privados, e manipular os usuários promovendo as mensagens mais escandalosas.

Mas nós estávamos muito deslumbrados com a possibilidade de voltar a entrar em contato com o Márcio, que não víamos desde o vestibular, para perceber a armadilha. Quando verificamos que havia razões para não vermos o Márcio desde o vestibular, já era tarde.

Para o mesmo efeito, eu recorria a uma velharia chamada jornais, que agora tinham também uma versão online, e produziam o mesmo efeito. A única desvantagem era as notícias serem apresentadas por um jornalista, após um processo de verificação de factos, e não pelo usuário @CaptainCool71, muito rapidamente.

Às vezes o jornalista falhava e o @CaptainCool71 acertava, mas o contrário era bem mais frequente. De repente, o jornalista começou a usar o @CaptainCool71 como fonte. Talvez essa parte ainda se possa desmerdificar. Até porque o @CaptainCool71 costuma ser uma engenhoca artificial sediada na Tailândia. É o mesmo que dar atenção a um microondas do Bangladesh.

  • Fonte: site da Folha
  • Foto: Reprodução

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