quarta-feira, dezembro 10, 2025
Gerais

As incríveis imagens de leões que abandonaram deserto para caçar na praia

  • Capacidade de adaptação vem garantindo a sobrevivência deles frente às mudanças climáticas
  • Felinos, do deserto da Namíbia, são os únicos conhecidos que caçam animais marinhos

A foto é incrivelmente marcante: uma leoa olha à distância em uma praia coberta por pedregulhos na Namíbia, enquanto as ondas de tempestade quebram ao fundo. Ela protege sua presa, que não aparece na foto: a carcaça de um lobo-marinho-do-cabo.

Existem apenas 12 leões do deserto vivendo ao longo da Costa dos Esqueletos, de uma população total de cerca de 80 animais. Eles se mudaram do árido deserto do Namibe para o litoral do Atlântico em 2017, em busca de alimento. Os leões alteraram drasticamente sua dieta e seu comportamento, para se adaptar ao novo habitat. E, aparentemente, eles se deram bem com a mudança.

“A foto mostra como esses animais são resilientes… eles mudam seu habitat para sobreviver”, afirma Van Malderen. “Estes leões são fortes. A vida é questão de sobrevivência e tudo é uma luta.”

Retorno ao litoral

Van Malderen acompanhou Gamma crescer. Ela conheceu a leoa quando o animal tinha três meses de idade. Agora, ela tem três anos e meio e é “quase adulta”, segundo ela. A fotógrafa destaca que a leoa se tornou uma caçadora implacável, capaz de matar 40 animais marinhos em uma única noite.

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Leão do deserto da Namíbia no litoral do oceano Atlântico – Griet Van Malderen

Gamma faz parte da primeira geração de leões a crescer na Costa dos Esqueletos, segundo o especialista em conservação Philip Stander, que acompanha os leões do deserto da Namíbia desde 1980.

Em 1997, Stander fundou a organização sem fins lucrativos Fundo de Conservação do Leão do Deserto. Ele afirma que a foto de Van Malderen é “muito significativa”, pois mostra “o primeiro dia de Gamma sozinha na praia”.

Os leões do deserto da Namíbia costumavam viver ao longo da Costa dos Esqueletos nos anos 1980, mas se retiraram para o deserto após uma seca. E conflitos com fazendeiros também dizimaram a maior parte da população, segundo Stander.

Mais de 30 anos se passaram e os animais “encontraram o caminho de volta ao litoral”, segundo ele.

Para ele, “os leões do deserto são incrivelmente únicos”. Eles mantêm o maior território de todos os leões e “são atletas de elite superpreparados”.

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Leoa do deserto no litoral do Oceano Atlântico, na Namíbia – Griet Van Malderen

O território de vida médio de um leão do deserto é de cerca de 12 mil km², explica Stander. Já um leão do Parque Nacional do Serengeti, na Tanzânia, tem tipicamente um território de vida de cerca de 100 km².

Os leões do deserto se adaptaram até a sobreviver sem água. “Eles conseguem a maior parte da sua hidratação da carne que comem”, segundo Stander.

Caçando na praia

“Estamos tão acostumados a ver leões na savana ou no topo de algum rochedo, como em “O Rei Leão [1994]”, que, de fato, é surpreendente observar um na praia. Parece muito estranho e incomum”, afirma a pesquisadora Natalie Cooper, do Departamento de Ciências da Vida do Museu de História Natural de Londres.

“Geralmente, observamos com os leões que, nas áreas onde há mais presas, eles acabam em bandos com mais indivíduos e um território de vida menor”, explica ela. “Nessa área, eles [andam] em pequenos grupos por grandes distâncias, para conseguir comida suficiente.”

Isso faz com que fotografar os leões seja um desafio ainda maior.

“Como fotógrafa, é maravilhoso, pois esses leões estão sempre em movimento”, destaca Van Malderen. “Eles não estão deitados, dormindo, mas sempre caçando para sobreviver.”

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Leoa do deserto, no litoral do oceano Atlântico, na Namíbia. – Griet Van Malderen

Em 2015, uma seca dizimou suas presas terrestres comuns, como avestruzes, órix e cabras-de-leque. Com isso, os leões encontraram novamente o mar e começaram a caçar as presas do litoral.

“Os animais marinhos foram uma bênção”, explica Van Malderen. “As mudanças climáticas empurraram os leões para a costa e os forçaram a se adaptar de forma extraordinária, para sobreviver nas praias do litoral do Atlântico.”

Van Malderen conta que dois filhotes nasceram no litoral em março de 2025. Para ela, “será muito interessante acompanhar esta evolução”.  Os leões do deserto da Namíbia são os únicos conhecidos que caçam presas marinhas.

“Nós os chamamos de leões marítimos, pois eles aprenderam a compreender o ecossistema do oceano e consumir alimento do mar”, explica Stander. Um estudo realizado por Stander concluiu que os corvos-marinhos, flamingos e mamíferos marinhos representaram 86% da biomassa consumida por três jovens leoas em um período de 18 meses.

“Embora seja uma população pequena, [esperamos] que os leões, agora, se recuperem, com o conhecimento do oceano. Mas precisamos protegê-los”, destaca Stander. Protegê-los significa minimizar os conflitos com os seres humanos que vivem na Costa dos Esqueletos.

Os guardas que acompanham os leões usam fogos de artifício para assustar os animais, quando eles chegam perto demais de assentamentos humanos, segundo Stander. Eles também criaram um sistema de cercas virtuais, que envia um alerta quando os leões as cruzam, para proteger os moradores e turistas da região.

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Leão do deserto na Namíbia – Griet Van Malderen

A fotografia também desempenha papel importante quando o assunto é a conservação.

Griet Van Malderen afirma que o principal objetivo do seu trabalho é promover a proteção das espécies que ela fotografa.

Philip Stander concorda que a foto transmite “uma lição muito bonita para nós, de que todos aqueles animais têm capacidade de se recuperar e ganhar novamente a beleza e a força por que são conhecidos”.

“Só precisamos dar a eles uma chance”.

 

  • Matéria reproduzida do site Folha/UOL
  • Fotos: Reprodução/Griet Van Malderen

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