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“Somos bons, independente de governos”, diz presidente da Asplan

         “Vamos acabar com essa história de agricultura boa e agricultura ruim. Toda cultura que gera emprego, renda e desenvolvimento, é boa. Quem segura o Brasil é o agro junto com a agricultura familiar e nós somos bons, independente de governos”, afirmou o presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), José Inácio de Morais, durante palestra de abertura do II Simpósio Paraibano de Cana-de-Açúcar, que aconteceu nos dias 26 e 27 de julho, na cidade de Areia (PB). O dirigente canavieiro falou sobre “Panorama atual, perspectivas e novos desafios do setor’.

            Para uma plateia formada em sua grande maioria por estudantes dos cursos do Campus II, da UFPB, José Inácio lembrou que a cana representa o grosso do PIB agrícola da Paraíba e é a única cultura que se mantém há mais de 500 anos. “O sisal e o algodão colorido não resistiram. As demais culturas são importantes também, mas, nenhuma delas tem a abrangência e importância que a cana”, afirmou ele. “Cheguei aqui na Paraíba em 1978, quando a usina Santa Maria estava sendo reformada e  a usina Tanques moendo. Enfrentamos a maior seca, em 1993, quando tivemos 90% de redução de safra e sobrevivemos e, neste período, a cana passou pelo seu momento mais difícil. Agora estamos com novos desafios, tais como, o surgimento do álcool de milho”, disse ele.

            Em sua participação, José Inácio fez uma retrospectiva histórica da cultura canavieira no Nordeste. “A cana-de-açúcar começou bem, com o Proálcool, de 1975 a 1990. Foi o auge da cultura no país. O ano de 1990 foi um divisor, mas, em 1986, já estava ruim, com uma inflação muito alta, de 82% ao mês, que culminou, para piorar, com o fechamento do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), no governo Collor de Melo”, lembrou ele.

“Eu vi produtores de cana chorarem porque não sabiam como iam continuar produzindo, sem a tutela do IAA. Porque, naquela época, a produtividade de cana do Nordeste em relação ao Sul era gritante. Eles já estavam nos três dígitos, e o NE ainda patinava com 50 toneladas de cana. Naquele tempo, havia um subsídio, tutelado pelo governo, existia cotas preferenciais americanas e europeias. E depois, abriu o mercado nacional e nós tivemos que concorrer com a produtividade do Sul. Essa é a história da cana real. Acabou o IAA, mercado aberto, veio a seca de 93, a maior seca que o Nordeste já viu, e a consequência foi uma redução de 90% na safra, naquele ano. Quem moía 10 mil toneladas, moeu 1000”, recordou José Inácio.

Mas, segundo ele, quando chega o desafio, também surgem as oportunidades. “O desafio era produzir cana na Paraíba neste cenário, numa região seca. Ai, a Paraíba partiu na frente de Alagoas e Pernambuco e também no Rio Grande do Norte, na busca por tecnologia, com irrigação e manejo”, afirmou José Inácio, lembrando que agora quase que está equiparada a produtividade do Nordeste com o Centro/Sul. “Com os investimentos feitos na região, foi reduzida a diferença entre as regiões produtoras do país. Lá, eles estão na média de 78/80 toneladas de cana/média, e nós estamos aqui com 80 toneladas na usina Monte Alegre”, destacou. Ele lembrou que no Nordeste há ainda a vantagem de uma boa logística, com as usinas a 40/50 km do porto, enquanto que no Mato Grosso, essa distância equivale a 700 km.

Sobre novos desafios, ele aponta o surgimento da concorrência do etanol de milho. “Para se ter uma ideia, a cana tem 500 anos e em pouco mais de quatro anos o etanol de milho já se equipara a toda cana do Nordeste, com tendência a aumentar muito. E o que a gente vai fazer com isso. Concorrer, se adequar. Investir em novas tecnologias, bioinsumos, para melhorar a produtividade e competitividade”, enfatiza ele, lembrando que há outras alternativas para uso do etanol, pois, já se fala em biocombustível marítimo, de aviação.  Outro desafio enfrentado pelo setor, segundo ele,  é a questão do governo segurar o preço da gasolina de forma artificial. “Esperamos que se encontre um equilíbrio onde o produtor não seja penalizado e o consumidor também não seja prejudicado. Mas, ninguém vai produzir álcool de graça para ninguém, pois sem ganhar dinheiro, nenhuma atividade sobrevive”, afirmou.

“A exportação de açúcar está segurando o preço da cana. Um ano o etanol ajuda, no outro o açúcar ajuda, e a gente continua produzindo. E a Paraíba teve uma particularidade. Na década de 90, fecharam as três usinas do Brejo. E quem comemorou isso, criticando a monocultura da cana, se arrependeu depois porque aumentou o desemprego, diminuiu a arrecadação e anos depois o IDH do Brejo estava menor que o do Cariri paraibano, considerada a região mais pobre do estado. Mas, tivemos aqui no Brejo os que migraram para produção de cachaça e hoje são grandes produtores das melhores cachaças nacionais”, lembrou José Inácio.

Sobre o futuro, ele disse: “O que a gente precisa fazer é agregar valor com qualidade de produto. Eu continuo otimista, o mais difícil já passou, há desafios, a concorrência é enorme, mas, é preciso pesquisar, chegar junto”, afirmou. Sobre uma das questões que mais preocupam os produtores de cana do Nordeste hoje, que é o corte de cana, ele foi enfático: “É uma situação complicada. Vai chegar um momento que não teremos mais cortador de cana, pois a média de idade hoje dos cortadores, que há alguns anos era 30/32 anos, já passou de 40. Os jovens não querem mais cortar cana. É um serviço que remunera bem, mas é pesado e não é todo mundo que aguenta. Então vamos ter que arrumar alternativas para colher cana. Infelizmente, ainda não chegou uma máquina boa para colher em topografias acidentadas e em encostas”.

Sobre o futuro dos jovens estudantes do setor agrícola, ele lembrou que o Brasil tem vaga no campo e precisa de mão de obra qualificada. “Se não tiver espaço na Paraíba, tem em Mato Grosso, no Maranhão, em várias localidades. Espaço tem e o Brasil precisa de mão de obra qualificada. Não tenham medo de ousar, façam estágio, aprimorem conhecimento porque essa profissão tem futuro”, disse ele.

Sobre não desistir da atividade, ele reitera que o pior já passou. “No ano passado, batemos recorde de produção com a maior safra da Paraíba, além da produtividade. E esses resultados refletem um esforço conjunto de produtores, pesquisadores, especialistas que fazem experimentos e investem para melhorar a produtividade. O açúcar cresce e a Paraíba continua firme e forte. O Brasil é agro, quem segura esse país é o agro junto com o agricultor familiar. Eu tenho orgulho de ser agricultor, engenheiro agrônomo e de plantar cana também”, finalizou ele.

O II Simpósio Paraibano de Cana-de-Açúcar foi promovido pelo Grupo de Estudos Sucroenergético (Gesucro) em parceria com a Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan), e teve como tema central nesta edição “Tecnologia e Produção no Nordeste”.

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