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Noite dos Cristais, por Leandro Demori

Noite dos Cristais
Por Leandro Demori, ex-Intercept, é um dos mais importantes jornalistas brasileiros e um expoente da primeira geração de comunicadores que mergulhou o jornalismo tradicional no caldeirão da revolução tecnológica da internet. Seu estilo único atrai milhares de pessoas. Confira a notícia abaixo e, depois, visite seu blog.

Nosso novembro de 2022 não pode virar aquele novembro de 1938.

Está acontecendo o que eu temia: derrotada nas urnas, a extrema direita acuada e está cada vez mais violenta. O momento é tenso e perigoso. O que coletei na imprensa apenas nesta sexta-feira mostra que a parte mais bolsonarizada do país decidiu partir para o crime à luz do dia.

É impossível entender o bolsonarismo sem estudar seu comportamento de seita. Muita gente boa vem se dedicando a isso. Na semana pós-derrota, notei que alguns componentes dessa imensa máquina de moer pessoas afloraram mais.


Há, no bolsonarismo, uma fé inabalável de que o “messias” voltará para salvar o rebanho. Como toda fé mal empregada, ela é impermeável a argumentos racionais. Se Bolsonaro está quieto, é porque “ainda não é a hora certa de falar”. Se fala algo que racionalmente desagrada a massa (como, por exemplo, pedir o desbloqueio das estradas), é porque “agora é a hora de enganar o sistema para agir depois”. A lista de interpretações místicas da realidade é enorme. Essa fé inabalável esteve muito presente nesta semana. E teve momentos cômicos, como as comemorações pela prisão do ministro Alexandre de Moraes e pela confirmação da fraude nas urnas – ambas notícias falsas, claro, mas que levaram grupos bolsonarizados às lágrimas e ao chão. De joelhos.

 

Isolamento midiático

Já é bem conhecida a estratégia de isolar seus seguidores em bolhas muito pequenas de informação. Os ataques preventivos contra a imprensa têm um só objetivo: fazer com que as pessoas “se informem” apenas nos “canais oficiais” do bolsonarismo – todo o resto é #imprensalixo. O zap zap é bem conhecido, mas também o Telegram tem servido a esse propósito. No pós-derrota, esse sentimento se intensificou porque é justamente agora que as teorias mais malucas estão sendo espalhadas. A mais recente, contada ontem em uma live para 300 mil pessoas no You Tube, foi a milésima “comprovação” de fraude nas urnas, dessa vez feita por um picareta argentino. Aqui também há boa risadas, claro: alguém tratou de espalhar a imagem de uma suposta “representante do Tribunal de Haia” conversando com Jair Bolsonaro. Na conversa, ela diria que Haia faria uma intervenção militar no Brasil. Seu nome: Stefani Germanotta. Com foto e tudo, era a cantora Lady Gaga.

Lady Gaga vira 'ministra do Tribunal de Haia' em fake news bolsonarista

Guetização

Os bolsonaristas extremistas carimbam as pessoas e as isolam em guetos. É o que está acontecendo neste exato momento. As nojentas “listas de petistas” estão se espalhando pelo Brasil. Circulando pelo zap, elas “informam” quem são os profissionais e comerciantes locais que supostamente votaram no PT e pregam boicote econômico a essas pessoas. Nazismo puro. Uma versão visualmente mais próxima da Berlim de 1938 ganhou corpo nas últimas 48 horas. Essa imagem vem rodando as redes sociais.

Em te tratando do bolsonarismo – um movimento de bases nazistas –, qualquer semelhança com a Alemanha dos anos 1930 não é mera coincidência.

Há gente à solta pelo Brasil sedenta por uma Noite dos Cristais. É preciso apaziguar o país, sim, mas prendendo os criminosos. Identificar e punir um por um. Precisamos pará-los.

Foto: Renato Parada/Divulgação

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