ColunasGisa Veiga

Sobre notas de repúdio, raízes podres e flores venenosas

Há vídeos cujos conteúdos não dá para dizer que “foram tirados do contexto” ou tentar minimizar seus efeitos negativos enaltecendo intenções altruístas. O deputado Arthur do Val – o “mamãe falei” – bem que tentou, mas não deu. Não colou.

Sua fala foi extremamente misógina e cruel, com direito a baixarias extremas que lhe valeram um pontapé no traseiro por parte da namorada e uma fina corda sobre a qual se equilibra seu mandato. Só faltou falar a máxima de quem comete erros semelhantes: “Se alguém se sentir ofendido, me desculpe”. Nada mais asqueroso.

Todos os que querem destroná-lo do mandato estão certos, certíssimos. Só não sei por que não usaram o mesmo rigor quando o então deputado federal Jair Bolsonaro se dirigiu a uma colega de parlamento e disse que ela não seria estuprada porque era muito feia. Ou pelo fato de, ainda como deputado, ter exaltado um torturador cruel, durante o impeachment da ex-presidente Dilma, como se fosse um herói, uma referência de hombridade. Ou ainda por ter dito que a ditadura militar no Brasil deveria ter matado muito mais. E por inúmeras outras falas tão cruéis quanto as do Arthur.

É necessário um padrão nesses julgamentos. Há casos em que há abundância de notas de repúdio a determinadas atitudes e palavras de homens públicos, mas ficam por aí mesmo. Nenhuma consequência mais grave, o que estimula novos gestos de preconceito, misoginia, racismo, nazismo, violência, crueldades outras. Ao lado das notas, é preciso a tomada de decisões que resultem em severas consequências.

Por falta de consequências, a verborragia abjeta de Bolsonaro ganhou robustez e até animados seguidores. Deu no que deu: sem freios, acabou sendo eleito presidente da República.

Sim, perdemos muito tempo e as consequências somos nós que estamos sofrendo. Vamos ver se aprendemos com nossos exemplos e extirpamos, a partir de agora, qualquer raiz podre de intolerância, preconceito e violência que tente brotar e florescer na sociedade.

Quando se vira flor, muitos começam a enxergar beleza onde só existe veneno.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *