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Samu registra mais de sete mil trotes no primeiro semestre do ano, prejudicando atendimento

Falsas ocorrências sobrecarregam central de atendimento e atrasam prestação de socorro a vítimas reais

 

Os trotes aos serviços de atendimento de emergência ainda são uma prática expressiva. De acordo com dados do Serviço de Atendimento Médico Urgência (SAMU), foram registrados 7.042 trotes na Paraíba, no primeiro semestre. Em 2023, foram 22.169 trotes realizados, o que representou 9%, aproximadamente, das 245.870 chamadas recebidas pelo SAMU.

Para a médica Natália Siqueira, coordenadora médica do SAMU, os trotes comprometem não só os usuários do serviço, assim como também toda a equipe. Para a coordenadora, “o tempo e os recursos gastos em trotes afetam diretamente a eficiência operacional do SAMU. Em 2023, foram perdidas 22.169 oportunidades de atender a emergências reais devido a trotes, potencialmente atrasando o socorro às pessoas em situações críticas. Além disso, o número elevado de trotes sobrecarrega a central de atendimento e pode causar frustração entre os profissionais, afetando a moral da equipe”.

Conforme a coordenadora, algumas medidas de combate aos trotes foram adotadas pelo serviço, como campanhas educativas, investimentos em sistemas para identificar e bloquear chamadas falsas, além de treinamento dos Auxiliares de Regulação Médica (ARM) – profissionais que recepcionam o chamado, sendo responsáveis pelo primeiro contato com o solicitante. Tais medidas contribuíram para a redução em 49%, aproximadamente, nos registros de junho de 2024, saindo de 2000 trotes no mesmo período, em 2023, contra 979 registros neste ano. “A redução no número de trotes em 2024 é um sinal positivo de que as medidas adotadas estão funcionando. No entanto, é crucial continuar os esforços para eliminar completamente os trotes, garantindo que os recursos do SAMU 192 sejam utilizados de maneira eficaz para atender emergências reais”, destacou a coordenadora.

Para Aerton Meireles, enfermeiro do SAMU, a pessoa que faz um trote pode até mesmo matar uma pessoa, indiretamente, por conta da mobilização de toda a equipe médica para a prestação de uma ocorrência fictícia. O enfermeiro já presenciou diversos casos de trote, desde ao uso inadequado de termos médicos pelos usuários, assim como simulações de uma situação de emergência para conferir maior veracidade à farsa.

Segundo o enfermeiro, “ houve uma ocorrência de uma idosa que tinha sofrido dois tiros em um bairro aqui de João Pessoa (…) quando a gente chegou no endereço citado, entramos na residência e a idosa estava sentada na sala, assistindo televisão.  Eu perguntei para ele assim, ‘rapaz, onde foi [sic] esses tiros?’ E ele me respondeu, ‘eu só queria, na verdade, que vocês verificasse a pressão da minha avó porque se eu dissesse que era isso, vocês não vinham’. E eu disse a ele que a gente não iria porque não é serviço do SAMU, não é uma urgência, não é emergência”.

 

Texto de Paulo Correia para o Jornal A União

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