ColunasGisa Veiga

Parem com essa frescura de diminutivos!

Chegar aos 60 anos traz um certo alívio. Você se sente meio que liberado de certos filtros na comunicação, admite-se andar – e não correr de um lado para o outro – nos corredores do seu ambiente de trabalho porque, sim, vai dar tempo de fazer tudo com calma e responsabilidade. Hoje, aos 61, ando mais devagar porque já tive pressa, e não porque não possa caminhar ligeiro – deixo isso para os momentos fitness.

Chegar a essa idade significa repensar valores – passar mais tempo com a família, adotar um “tô nem aí” (isso porque sou educada) para certas cobranças, mudar bruscamente algumas prioridades, recusar um convite social por pura preguiça de largar seu livro e se produzir toda. “Dane-se” (novamente, porque sou educada) quem me criticar por isso (eu já fazia isso muito antes dos 60). Hoje estou mais preocupada em me agradar do que aos outros. E não tenho que provar mais nada para ninguém. Ah, que delícia!

Em compensação, é duro ouvir frases no diminutivo quando, por exemplo, você vai a um consultório médico – coloque sua mãozinha aqui, sente-se naquela cadeirinha ali –, ou ouvir de uma colega de profissão mais jovem dicas de como adotar transferências via pix, como se você fosse alheia às novas tecnologias e não fosse adepta dessa comodidade bancária desde sempre – antes dela, inclusive. Ora, ora, eu já estou mergulhando no mundo de informações do metaverso. Estão me achando com cara de analfabeta digital? Eu, que trabalho com conteúdos profissionais de mídias digitais há tempos, inclusive na produção de cards? Sério mesmo?

Queridinhos jovens, eu nem penso em parar meu intenso ritmo de trabalho. Sinto-me plenamente produtiva. Gosto muito do que faço, do meu ambiente de trabalho no jornal A União (ah, que delícia voltar ao ambiente físico de uma redação) e das outras atividades profissionais paralelas. Dou conta de tudo, babies. E ainda faço pós-graduação. Anotaram?

Ser produtivo ou não, ter bagagem e expertise profissional ou não, ter intimidade com as novas tecnologias ou não… tudo isso independe de idade. Há jovens que aos 30 anos já pararam no tempo – não se acham mais estimulados a se aperfeiçoar, não são proativos, são lentos de raciocínio, não leem com frequência e muitos ainda têm péssimo gosto musical. Conheço vários, em várias profissões, com vários estilos de vida diferentes, mas com essas mesmas características.

Voltando à leseira dos diminutivos: pessoas 60+ não são crianças, são pessoas experientes e normalmente detestam ser tratadas com expressões capacitistas ou etaristas. Já têm idade de ter netos (eu tenho uma de quatro anos, linda), mas não vivem em função deles, ou dos filhos já adultos, porque têm suas próprias ocupações e interesses particulares que os movem e os estimulam. Procurem aprender com essas pessoas – certamente têm muito a ensinar, vocês nem imaginam o quanto!

Portanto, parem com essa frescura!

 

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