Esportes

Gramado sintético nos esportes: solução viável para o espetáculo ou risco potencial de lesão?

Debate sobre a utilização de grama sintética nos esportes voltou à tona nas últimas semanas; lesões graves são relacionadas a este tipo de gramado

Via Diário de Pernambuco – A discussão sobre a utilização de grama sintética em esportes profissionais voltou à tona nas últimas semanas. Amplamente disseminado no mundo desde a virada do século, o sintético começou a ser questionado principalmente por conta de lesões ligamentares neste tipo de piso. Estudos não chegam a uma conclusão, mas indicam um futuro onde a grama natural será a única utilizada.

A polêmica da grama sintética voltou à tona nas últimas semanas, por conta de uma lesão grave que ocorreu na National Football League, a NFL, a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos. Na ocasião, Aaron Rodgers, quarterback do New York Jets, rompeu o Tendão de Aquiles e está fora de toda a temporada 2023/2024. O estádio onde ocorreu a lesão, o MetLife Stadium, utiliza grama sintética, assim como outros 14, de 30 da liga.

Jogadores profissionais de futebol americano se manifestaram nas redes sociais, sendo contra a utilização deste tipo de gramado na NFL. Eles afirmam que várias lesões graves aconteceram por conta do tipo de grama, que causa maior travamento das chuteiras no solo, prejudicando a rotação e firmação correta dos pés em movimentos de velocidade.

A Associação de Jogadores da NFL também se manifestou após o caso, exigindo a troca do tipo de gramado o quanto antes. Para isso, se basearam nas regras e normas da FIFA, tendo em vista que os Estados Unidos é um do países sede da próxima Copa do Mundo, em 2026, juntamente com México e Canadá. O MetLife Stadium, onde Aaron Rodgers se lesionou, é um dos estádios selecionados para a Copa.

A FIFA regulamenta o uso de gramado artificial desde 2001, e a popularidade dele logo se espalhou, principalmente na Europa. Em países de invernos rigorosos, a manutenção de um gramado é extremamente difícil e cara, levando os clubes de menor expressão e divisões inferiores a recorrerem a este tipo de grama. De fato, a manutenção é bem mais fácil e barata. Entretanto, o movimento pela volta da grama natural volta com força por lá.

A Eredivisie, liga profissional de futebol da Holanda, anunciou que os clubes serão obrigados a usar grama natural nos estádios até 2025. 18 clubes compõem a divisão principal da liga. Por lá, até o risco de câncer foi colocado em pauta, tendo em vista que alguns produtos utilizados junto com a borracha do gramado são proibidos por conterem mais de 60 compostos proibidos de serem comercializados.

Os jogadores da liga, em votação ao fim da temporada, sempre elegem os gramados sintéticos como os piores para se jogar. Invariavelmente, o medo de lesão grave também é compartilhado com os profissionais da Holanda. Os maiores clubes do país, Ajax, PSV  e Feyenoord, vinham elaborando um fundo de ajuda de manutenção dos gramados dos clubes menores, tudo para evitar os sintéticos. Antes da concretização, a medida de proibição foi tomada pela Eredivisie. Os times terão que utilizar pelo menos um gramado híbrido até 2025/2026.

Tapetinho no Brasil

No Brasil, o clube profissional de futebol pioneiro na utilização na grama sintética foi o Athletico. A Arena da Baixada, atual Ligga Arena, foi alvo de várias críticas no seu gramado e tinha muita dificuldade de manutenção, como pouca iluminação solar e um rio que passa embaixo do estádio. A decisão do gramado sintético, além de trazer uniformidade ao gramado, acarreta uma economia considerável com manutenção ao clube.

O Palmeiras seguiu os passos do Athletico e adotou a grama sintética no Allianz Parque, seu estádio. Desde 2020 que palmeirenses convivem com o artificial, visto ainda como inovação no futebol nacional. Outro estádio, o Nilton Santos, no Rio de Janeiro, fecha a tríade dos sintéticos no Brasil, utilizando desde o primeiro semestre de 2023 e sendo a casa do Botafogo, atual líder do Campeonato Brasileiro da Série A.

Todos os três gramados recebem seus elogios pela qualidade, reconhecida pela FIFA. Entretanto, o jogo se torna mais rápido, a bola prende menos no chão, exigindo mais fisicamente dos jogadores. Talvez, por este motivo, lesões graves também aconteçam em terras brasileiras.

Em agosto deste ano, o atacante Tiquinho Soares, do Botafogo, sofreu uma lesão ligamentar no joelho esquerdo e ficou afastado dos gramados por cinco semanas. O lance ocorreu no Nilton Santos. O também atacante Dudu, do Palmeiras,  rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito, e teve uma lesão no menisco. A partida aconteceu em agosto deste ano, no Allianz Parque. Jovem promessa do Atlhetico, o atacante Vitor Roque sofreu uma lesão ligamentar no tornozelo direito. O jogo foi na Ligga Arena, em setembro deste ano.

Estudo publicado pela revista Sports Magazine, em 2011, indica que lesões consideradas graves, em joelho, tornozelo e músculo posterior da coxa acontecem com maior frequência em gramados sintéticos.

O perfil DNA do Esporte, no X, divulgou um levantamento das lesões mais graves do Campeonato Brasileiro da Série A de 2023 até então, mostrando quais delas aconteceram em gramado natural ou sintético.

“O jogo em gramado sintético é mais rápido. Então, mais velocidade, mais lesões. Os estudos indicam também que elas ocorrem principalmente na desaceleração e nas mudanças de direção. Naturalmente, exige um condicionamento maior do atleta”, explicou o ortopedista Antônio Mário Valente, especialista em tratamento e prevenção de lesões esportivas.

Em Pernambuco, somente o Sport demonstra um interesse em adotar a grama sintética em seu estádio. Recentemente, iniciou a instalação em um dos seus gramados auxiliares, aumentando as especulações sobre a troca do gramado da Ilha do Retiro, que historicamente sofre com alagamentos e não apresenta boa qualidade na temporada.

“É uma opção muito viável. A intenção é adaptar nossos atletas desde a base a uma nova realidade de velocidade e quique da bola, por exemplo. O trabalho de prevenção a lesões também será feito”, destacou Anselmo Sbragia, coordenador de performance do Sport.

A discussão sobre a utilização ou não do gramado sintético deve se estender e sempre voltar à tona. A divisão de opiniões, os prós e os contras alimentam o debate e enchem de munição tanto quem defende quanto quem reprova. Até lá, presenciaremos jogos em ambos os estilos, desejando que o espetáculo dos esportes e a integridade física dos atletas sejam levadas em consideração e encaradas com devida importância.

Matéria de Jeffrey Vila Nova para o Diário de Pernambuco

Foto: Vitor Silva/Botafogo

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