Cultura

Festival Interativo de Música e Arquitetura celebra os 134 anos de criação do Teatro Santa Roza

Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2 de dezembro de 1998, conforme o decreto nº 20/36, o Teatro Santa Roza, no Centro Histórico de João Pessoa, está completando, hoje, 134 anos de existência. O equipamento vai ser o palco da grande homenagem para a celebração da data, por meio da realização, a partir das 20h desta sexta-feira, da 3ª edição do Festival Interativo de Música e Arquitetura (Fima).

Durante o evento gratuito, se apresentará o trio formado por Ronedilk Dantas (violino), Leonardo Semensatto, (violoncelo) e José Henrique Martins (piano), executando concerto com obras que estabelecem um diálogo entre a música, a arquitetura e a história deste ícone da cultura paraibana. A arquiteta Noemia Barradas também participará, proferindo palestra sobre aspectos arquitetônicos e históricos do edifício. Ao longo da audição, o público vai perceber paralelos entre o repertório do concerto com a história arquitetônica do teatro.

“Um dos principais objetivos do Fima é possibilitar uma experiência multissensorial para as pessoas, numa jornada de reconhecimento e apreciação que vai unir passado, presente e futuro, a fim de que tenham uma relação afetiva com o teatro e vivam esse momento com o Santa Roza, que é um dos patrimônios históricos mais importantes não só da Paraíba, mas também do Brasil, pois é um edifício de arquitetura eclética classicista, que, no decorrer do tempo, testemunhou importantes capítulos da trajetória artística do país”, disse o idealizador, curador e diretor artístico do festival, o carioca Pablo Castellar.

O concerto na capital paraibana será gravado nos formatos em alta definição e filmado em 360 graus para posterior exibição gratuita pelas redes sociais do Fima, disponibilizado no início de 2024. “A websérie Obras em Nota antecipará o que será apresentado, levando aos espectadores um entendimento mais claro sobre as escolhas das obras apresentadas em cada local. Com isso, queremos democratizar o acesso do público, a fim de que construa sua relação com a música e a arquitetura”, explicou Castellar. A 1ª edição do evento homenageou monumentos arquitetônicos do estado do Rio de Janeiro e a segunda, palácios e museus do Brasil. “Além de ser um projeto novo, promove o resgate histórico e arquitetônico do Santa Roza, ligando a música com o entorno do teatro”, disse o violinista paraibano Ronedilk Dantas. Dantas informou que os convidados tiveram total liberdade para montar o repertório.

Em certo momento, vai ceder espaço para palestra de Noemia Barradas e, depois, ser retomado. Um exemplo disso é a obra ‘Trio para Piano e Cordas em Ré maior, Op. 70 nº 1’, de Beethoven, que originalmente tem três movimentos, mas vamos tocar o segundo, ‘Largo assai ed espressivo’, que escolhemos por causa da atmosfera sombria e porque tem muita coisa para ser apresentada. Por isso, essa obra é apelidada de ‘Fantasma’ e lembrará ao público episódios históricos que aconteceram no Santa Roza, um dos quais em 1900, quando o ilusionista Balabrega e um membro de sua equipe, Louis Bartelli, quando estavam nos preparativos para o espetáculo, morreram numa explosão, ao tentarem corrigir defeito num projetor, levando à morte também um espectador local”.

Em seguida, se ouvirá as quatro canções de Carlos Gomes, que são ‘Analia Ingrata’, ‘Canta Ancor’, ‘Conselhos’ e ‘Rondinella’, o que vai propor ao público um diálogo entre a influência italiana clássica na música de Gomes e a arquitetura eclética do teatro; depois, para reviver a época do cinema mudo, já que o Santa Roza foi um cine-teatro no início do século 20, serão apresentadas obras de compositores cujas músicas foram utilizadas como ferramenta de narração e expressão da Sétima Arte naquele tempo, que são ‘The Entertainer’ e ‘Weeping Willow’, ambas composições de Scott Joplin, e a lendária ‘Fon-Fon’, do brasileiro Ernesto Nazareth. A próxima peça será ‘Suite Sertaneja’, do paraibano José Siqueira, e, na sequência, será tocado um arranjo da música ‘Anayde Beiriz’, do também paraibano Elon Barbosa, com o intuito de lembrar que, em setembro de 1930, no palco do Santa Roza, se formulou a bandeira da Paraíba e se alterou o nome da capital para João Pessoa. A penúltima peça do concerto será ‘Serrana’, de Henrique Oswald. O programa vai ser encerrado com o ‘Canto do Cisne Negro’, de Villa-Lobos, para levar a plateia e recordar outros importantes nomes da música paraibana, a exemplo do educador Gazzi de Sá. A música ‘Anayde Beiriz’ foi composta durante a pandemia, em 2020, e faz parte do primeiro EP de Elon, Tateia, produzido com Helinho Medeiros.

“A princípio, era uma canção de amor com uma letra que trata sobre nosso tempo. A surpresa veio no final do processo de criação. A palavra veio fluida e se impôs. Para falar de amor enquanto um ato político na Paraíba, a grande referência é ela, Anayde Beiriz”, disse o cantor e compositor. “Para mim, será uma satisfação imensa poder presenciar o espetáculo e ouvir a canção na interpretação de um concerto de câmara. Para o meu trabalho, é sinal de que a obra tem tocado as pessoas e tem importância para a Paraíba, já que faz referência a uma personagem de nossa história. A presença de Anayde como um adjetivo para esse amor torna definitivamente a obra um ato político e que provoca a forma como a história da Paraíba é contada”, afirmou Elon.

Jornal A União

Foto: Roberto Guedes/A União

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