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Terceira guerra memeal

Brasileiros x argentinos, paulistas x cariocas, nordestinos x sudestinos/sulistas… algumas rivalidades não passam de brincadeira, outras são levadas mais a sério em razão da carga de preconceito e até incitação a crimes. E essas devem ser contidas.

Além da histórica rivalidade com os argentinos, incrementada pelo futebol, os brasileiros vêm enfrentando, nos últimos anos, um tratamento nada cordial por parte dos portugueses, o que tem levado a uma onda de alfinetadas de parte a parte. Somos maltratados quando chegamos por lá, embora muitos atribuam esse tratamento ríspido a um tanto de inveja dos gajos diante da ex-colônia, hoje um país gigante, de gente com gingado, bom-humor, inteligência, criatividade. Até o chamado idioma português-brasileiro está sendo assimilado pelos jovens lusos, o que tem irritado consideravelmente seus pais.

“Vocês, do Brasil, não falam português, falam brasileiro, é outra língua”, dizem alguns mal-humorados das bandas de lá.

Ok, que assim seja. Assim como a ex-colônia inglesa — Estados Unidos — inovou no inglês, nós, brasileiros, inovamos no português. E os estrangeiros estão preferindo aprender o português-brasileiro, com nossos sotaques e gírias, ao português sisudo clássico. Devolvemos a provocação com um meme: “Os guianenses falam o brasileiro arcaico”. Guianenses porque, por aqui, logo batizaram o país europeu de Guiana Brasileira.

A rixa entre os dois países recebeu uma dose extra de azeite na primeira semana de janeiro deste ano, quando internautas portugueses criaram e popularizaram a hashtag #BrasileirosPrecisamDeCérebro, no X, o antigoTwitter. Claro que os brasileiros não iriam deixar barato. Mas, ao contrário daqueles, nada de responder com grosseria e mau-humor. Até porque o bom-humor é a principal arma brasileira e é capaz de deixar os alvos mais ferozes do que se recebessem um tapa ao vivo.

Assim é que nasceram e se multiplicaram vários memes que continuam a divertir os internautas. Outro fato, um pouquinho antes, fez explodir a primeira enxurrada desses petardos na internet. Em novembro passado, o time de futebol feminino do Barcelona oficializou a contratação da jogadora portuguesa Kika Nazareth, anunciada nas redes sociais do time com uma expressão bem brasileira: “Fala, galera!”. Foi o suficiente para acender a ira dos gajos e provocar as respostas bem-humoradas dos brasileiros.

Seria esta a terceira guerra memeal entre os dois países? Já houve duas, se querem saber. E o Brasil venceu as duas. Não há quem segure essa verve tupiniquim. Após batizarem o antigo colonizador de Guiana Brasileira, logo vieram outras sugestões: Pernambuco em Pé (é só comparar os mapas), Porto Triste (em contraste com a capital do Rio Grande do Sul), Porto de Gajinhas, Mato Grosso do Norte, Faixa de Gajos, Rio de Fevereiro, todos fazendo uma referência a Portugal como uma extensão do território brasileiro. E a capital daquele estado? Só poderia ser “Vitória da Reconquista”. Apenas uma brincadeira criativa de colonização reversa.

“Poucos brasileiros sabem, mas a estrela solitária da bandeira do Brasil representa um estado que fica na Europa: Pernambuco em pé”, diz um dos vídeos populares. As brincadeiras apenas mostram que os brasileiros são bem mais criativos, irônicos e irreverentes do que os habitantes daquela porção da Europa. Em vez de tratarem mal os “guianenses” que chegam por aqui, usam sua capacidade criativa para responder, sem agressões verbais, aos seus rivais. Isso é ser brasileiro!

Então, fala, galera!

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