Lula é recebido por Zelaya em Honduras, que vive debate sobre limites do primeiro-cavalheiro
Marido da presidente, ex-líder deposto por golpe atua no governo e recepcionou petista e dirigente de Cuba
O Brasil não é o único país às voltas com o debate sobre os limites da atuação do cônjuge da liderança no poder. Em Honduras, onde essa questão vem à baila com alguma frequência, a discussão ressurgiu nesta semana —e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como um dos personagens.
O imbróglio gira em torno da recepção ao petista, que chegou ao país-sede da 9ª Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) na noite desta terça-feira (8). Lula era aguardado no aeroporto por Manuel Zelaya, ex-presidente hondurenho e marido da atual líder, Xiomara Castro.
Embora nada impeça o governo de enviar o primeiro-cavalheiro —que, inclusive, é assessor da Presidência— a um evento como esse, a escolha é inusual. O mais comum é que o convidado seja recebido pelo próprio presidente, por seu substituto direto ou por algum membro do corpo diplomático do país.
O mal-estar se parece com o vivido internamente por Lula. A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, sofre críticas desde a volta do petista ao Palácio do Planalto, em 2023, por supostamente extrapolar suas atribuições sem ter um mandato ou cargo oficial no governo.
Presença constante em viagens internacionais, Janja tem um gabinete no Palácio do Planalto, costuma se reunir com ministros e mantém diversos assessores, o que a transforma em um alvo de contestações da oposição.
No início de fevereiro, por exemplo, o governo federal gastou ao menos R$ 260 mil para bancar a ida da primeira-dama, do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, e de um grupo de assessores para Roma, onde Janja foi designada pelo presidente para representar o Brasil em uma reunião do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, no entanto, arquivou no mês passado todos os pedidos de investigação feitos por políticos da oposição sobre os gastos dela. Em sua decisão, Gonet afirmou que os relatos não contêm elementos que justifiquem atuação do Ministério Público e que não há novidade na atuação de Janja como primeira-dama.
Desde então, a influência de Zelaya no governo é debatida. Durante sua vitoriosa campanha, em 2021, a atual presidente afirmou que pretendia continuar o projeto do marido, interrompido pelo primeiro golpe de Estado no país desde 1981.
À época da queda de Zelaya, Lula estava em seu segundo mandato e foi um dos maiores defensores do aliado na região, sem nunca reconhecer o governo que veio na sequência. O hondurenho, aliás, chegou a ficar abrigado na embaixada do Brasil em Tegucigalpa por quatro meses após retornar de um exílio.
O golpe é tema do livro que o político entregou a Lula ao sair do carro, na frente do hotel em que o petista ficará hospedado durante sua breve estada em Honduras —os dois foram no mesmo veículo do Aeroporto de Internacional de Palmerola a Tegucigalpa, um trajeto que dura pouco mais de uma hora.
Após fazer as fotos com Zelaya, Lula não quis falar com a imprensa, sob a justificativa de cansaço pelo horário.
Fonte: Site da Folha de S. Paulo
Foto: Ricardo Stuckert/PR