sexta-feira, novembro 14, 2025
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fábricas clandestinas em SP e MG produzem fuzis que abastecem o Comando Vermelho no Rio

A Polícia Federal e a Polícia Civil do Rio de Janeiro revelaram uma das investigações mais complexas e preocupantes sobre o tráfico de armas no país. Fábricas clandestinas localizadas em Santa Bárbara d’Oeste (SP) e Belo Horizonte (MG) produziam fuzis de guerra em escala industrial para abastecer o Comando Vermelho (CV) e outras facções criminosas no Rio de Janeiro, além de grupos na Bahia e no Ceará.

A operação surge após a maior apreensão de fuzis já feita em uma única ação policial no Rio91 armas foram encontradas na megaoperação contra o CV nos complexos do Alemão e da Penha, capazes de perfurar coletes e paredes. Até então, acreditava-se que a maioria das armas vinha do exterior, especialmente via Paraguai e Amazônia, mas a PF descobriu um esquema nacional altamente sofisticado.

Indústria de guerra clandestina

Segundo o delegado Samuel Escobar, a fábrica de Santa Bárbara d’Oeste possuía 11 máquinas industriais de alta precisão, como tornos e fresadoras, capazes de produzir até 3.500 fuzis por ano. “Não era uma fábrica de garagem. Era uma planta industrial profissional, com equipamentos que custavam milhões de reais”, explicou o delegado.

A fachada da operação era o CNPJ de uma empresa de peças aeronáuticas, de propriedade do piloto Gabriel Carvalho Belchior, que está foragido e procurado pela Interpol. Em 2015, ele ficou conhecido após o avião que pilotava cair no mar do Leblon, no Rio. Agora, é apontado como o elo internacional da quadrilha, enviando fuzis desmontados dos Estados Unidos escondidos em caixas de piscinas infláveis e brinquedos.

Antes da deflagração da operação, Gabriel deixou o Brasil e fugiu para os EUA, segundo a PF.

Logística e distribuição

De acordo com as investigações, Rafael Xavier do Nascimento fazia o transporte das armas de São Paulo para o Rio pelo menos uma vez por mês, abastecendo comunidades como o Complexo do Alemão e áreas controladas por milícias. Ele foi preso em flagrante com 13 fuzis na Via Dutra.

No celular de Rafael, os investigadores encontraram mensagens trocadas com o principal destinatário das armas, o carioca Silas Diniz Carvalho, preso em 2023 com 47 fuzis em seu apartamento na Barra da Tijuca. Silas também operava uma segunda fábrica clandestina, em Belo Horizonte, com a ajuda da companheira, Marcely Ávila Machado.

“Parecia uma fábrica normal, de esquadrias ou móveis, mas dentro funcionava uma linha de montagem completa de fuzis”, relatou o delegado Escobar.

Outro membro do grupo, Anderson Custódio Gomes, foi preso em flagrante levando peças para 80 fuzis. Ele integrava o núcleo operacional da quadrilha, responsável pela montagem e distribuição das armas.

Produção e alcance

A PF estima que a rede criminosa tenha fabricado e distribuído cerca de mil fuzis apenas para o Rio, abastecendo facções como o Comando Vermelho, além de enviar armamentos para Bahia e Ceará. Entre as armas apreendidas, 25 são do modelo AR-15 calibre 5.56, idênticas às produzidas nas fábricas clandestinas.

O Instituto Sou da Paz aponta que as apreensões de fuzis no Rio cresceram 32% entre 2019 e 2023, um indicativo do aumento da circulação de armamento pesado nas mãos do crime organizado.

Enquanto isso, a Polícia Civil do Rio vai realizar uma perícia detalhada nas armas apreendidas na megaoperação que deixou mais de 90 mortos nos complexos da Penha e do Alemão — parte de um arsenal que, segundo os investigadores, foi fabricado dentro do próprio Brasil.

Os advogados de Silas Diniz Carvalho e Anderson Custódio Gomes não se pronunciaram até o fechamento desta matéria. Marcely Ávila Machado não foi localizada. Gabriel Belchior segue foragido.

Imagens: Polícia Federal / Reprodução Fantástico

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