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Relatório da ONU aponta aumento da inflação nos países em desenvolvimento

A ONU (Organização das Nações Unidas) alertou que o aumento dos custos de transporte marítimo resultante dos problemas na cadeia mundial de suprimentos vai alimentar ainda mais a inflação em todo o mundo e terá efeito desproporcional sobre as economias dos países em desenvolvimento.

A disparada no custo de frete deve elevar os preços ao consumidor mundiais em 1,5% adicional, se a alta se mantiver ao longo do ano que vem, de acordo com estimativas da Unctad, a Conferência de Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas, em um relatório publicado na quinta-feira (18).

O boom induzido pela pandemia na demanda por produtos, combinado a perturbações na cadeia de suprimentos como o congestionamento dos portos e o bloqueio do canal de Suez, fez com que os fretes disparassem para níveis recorde, equivalentes a cerca de cinco vezes seu valor médio ao longo dos dez anos anteriores.

Mas os países em desenvolvimento, dependentes de importações, devem sofrer um golpe mais pesado com a alta nos custos de transporte marítimo. Os preços ao consumidor devem subir em 2,2% nos 46 países menos desenvolvidos do planeta, e em 7,5% em pequenos países como Fiji, Maurício e Jamaica, segundo o relatório.

“O impacto sobre os preços nos países em desenvolvimento, especialmente os países ilhéus, é cinco vezes mais forte”, disse Shamika Sirimanne, diretor de tecnologia e logística na Unctad. “E essa é uma verdadeira preocupação”.

Com a disparada dos preços de praticamente tudo, do aço à energia, os bancos centrais estão tentando determinar se a inflação vai se acomodar quando os problemas nas cadeias de suprimento forem resolvidos.

A inflação do Reino Unido disparou para 4,2% anuais em outubro, sua maior marca em quase dez anos, o que aumenta a pressão sobre o Banco da Inglaterra por um aumento nas taxas de juros. Nos Estados Unidos, os preços ao consumidor subiram em 6,2%, seu ritmo mais rápido de alta desde 1990, enquanto a inflação da zona do euro está em 4,1%, seu ponto mais alto em 13 anos.

Jan Hoffmann, diretor de logística do comércio na Unctad, disse que o setor de transporte marítimo tende a minimizar sua contribuição para a inflação. Os executivos do ramo mencionam frequentemente que custa apenas alguns centavos despachar um par de sapatos da China ou uma garrafa de vinho da Austrália para a Europa ou os Estados Unidos, dando a entender que a disparada nos custos é relativamente insignificante para os consumidores.

Mas Hoffmann disse que a vasta escala dos bens transportados em contêineres torna a alta nos fretes um debate relevante para a inflação mundial.

“Se observarmos as metas de inflação na Europa e nos Estados Unidos, 1,5% é significativo”, ele disse.

O impacto dos custos de transporte marítimo sobre os preços pagos pelos consumidores varia de modo significativo a depender do produto. Os itens cuja produção envolve cadeias de suprimento mundiais complicadas, como os computadores, e também os produtos de massa fabricados em grande volume, como mobília e têxteis, provavelmente verão alta de preços da ordem de pelo menos 10% por conta da disparada no custo dos fretes, segundo o relatório.

Os fretes dos contêineres caíram nas últimas semanas porque a temporada de pico chegou ao fim, mas permanecem extremamente altos.

A consultoria de transporte marítimo Sea-Intelligence previu esta semana que poderia levar até 30 meses para que os fretes voltem ao normal, devido à profundidade da crise nas cadeias de suprimentos.

Sirimanne alertou que se a consolidação entre as companhias de transporte oceânico continuar, com a ajuda dos lucros extraordinários que elas vêm acumulando, os preços mais altos do transporte marítimo poderiam se tornar “duradouros”.

Ela instou os governos a apoiar esforços de vacinação contra a Covid-19 nos países em desenvolvimento, a fim de ajudar a aliviar as pressões de preço e sobre as cadeias de suprimento.

Tradução de Paulo Migliacci/Folha de São Paulo

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