ColunasGisa Veiga

OAB acovardada

Não foi nada convincente o argumento do presidente da OAB, Beto Simonetti, de preferir “a equidistância necessária e salutar a toda e qualquer paixão política que tente seduzir o nosso corpo entregue a esse processo de defesa democrático”, para justificar a negativa de assinar as cartas em defesa da democracia organizadas pela Fiesp e Faculdade de Direito da USP. A OAB preferiu um manifesto singular, deixando claro que as demais cartas tinham um viés político-partidário. Se queria somar algo ao movimento, acabou por dividi-lo. Lamentável!

Pareceu mais um ato de covardia do que de prudência. As cartas não fazem referência a candidatos, e sim ao zelo para com a democracia. E quem quiser que vista a carapuça de ser contrário à democracia, como o fez o presidente Bolsonaro, reagindo histrionicamente aos documentos, que foram assinados por várias entidades e instituições e até por banqueiros e grandes empresários.

Tanto pudor e preciosismo da OAB parece estratégia para não ferir os brios da direita. Ou seja, parece que o cuidado com a argumentada “equidistância” se refere apenas aos setores da esquerda que assinaram a carta. Se não foi essa a intenção, foi a imagem que passou. Pegou mal, muito mal.

Simonetti prefere a despolitização da OAB, que historicamente se posicionou numa trincheira democrática. Algo impossível! A OAB tem, sim, que tomar decisões políticas, embora não necessariamente partidárias. O fato de não querer assinar as outras cartas já foi uma posição política. Equivocadíssima, por sinal.

Cezar Britto, ex-presidente da Ordem, foi uma das vozes que se levantaram contra essa equidistância proposta por Simonetti, lembrando que partidos políticos ou candidatos nunca estiveram à frente do manifesto da USP, e sim os parceiros históricos da OAB. “Vossa excelência corretamente aponta a existência de vários manifestos e várias ações simultâneas em defesa da democracia. De overdose de democracia só morrem os ditadores”, disse Britto, reagindo ao presidente atual da entidade.

Definitivamente, a OAB não convenceu. E, ainda que as cartas fizessem pontualmente uma crítica direta aos setores que defendem a erosão da democracia, e que todos sabem quais são, não havia motivo para a OAB se negar a aderir. Afinal, se alguém – ou um grupo – põe em perigo a democracia, a OAB tem, sim, obrigação moral de se rebelar contra, sem medo de ofender aos golpistas em potencial. Qual o problema? Tem medo de quê?

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