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Morre o poeta Antonio Cicero, membro da ABL e famoso letrista da MPB, aos 79 anos

O escritor carioca Antonio Cicero, um dos mais célebres poetas e letristas da literatura brasileira, morreu nesta quarta-feira aos 79 anos. A informação foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras, da qual era membro desde 2017.

homem sentado em meio a estantes de livros
O poeta Antonio Cicero em sua casa, no Rio de Janeiro, em 2014 – Zô Guimarães/Folhapress

Nos últimos anos, ele recebeu diagnóstico de Alzheimer e passou por uma série de internações. Sua morte aconteceu em Zurique, na Suíça, ao lado de seu parceiro Marcelo Pies.

Após cursar filosofia dentro e fora do Brasil —sofreu com o exílio na época da ditadura militar—, Cicero se tornou um dos poetas mais renomados do Brasil e colaborou com letras de algumas das principais canções de sua irmã mais nova, Marina Lima, como “Fullgás”, “Charme do Mundo” e “Pra Começar”.

Seu poema “Maresia” também estourou na boca de Adriana Calcanhotto mais tarde —ela também gravou seu “Inverno” no álbum “A Fábrica do Poema”.

Já sua poesia ficou marcada pela mescla de influências clássicas, coletadas a partir de seus estudos na Universidade Georgetown, nos Estados Unidos, e parcerias com autores modernos como Waly Salomão, seu contemporâneo, de quem era próximo a ponto de fazer publicações conjuntas.

Entre seus poemas mais conhecidos está “Guardar”, de uma coletânea homônima e premiada de 1996. O texto começa: “Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la./ Em cofre não se guarda coisa alguma./ Em cofre perde-se a coisa à vista./ Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.”

Seu interesse pelo áudio também ficou evidente pelos álbuns de poesia que gravou ao longo das décadas. Seus ensaios, críticas e poemas primavam por um equilíbrio entre o lírico e o filosófico —o poeta também foi professor universitário de filosofia e lógica durante boa parte da carreira.

Cicero fez um procedimento de suicídio assistido na Suíça, onde a prática é legalizada. O cineasta Jean-Luc Godard, por exemplo, morreu desta forma no mesmo país.

“Como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo”, escreveu, em carta deixada a seus amigos. “Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.”

 

Transcrito da Folha/UOL
Foto: Eduardo Trópia/Divulgação

 

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