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Jornal destaca em caderno especial trajetória do jornalista e ex-deputado Jório Machado

O jornal A União, em sua edição de domingo último (17/05) publicou matéria especial assinada pelo jornalista Hilton Gouveia destacando a trajetória do jornalista Jório de Lira Machado, um dos mais conceituados profissionais da imprensa paraibana. Na ocasião, Hilton Gouveia assinala a fundação do jornal O MOMENTO, que se transformou numa verdadeira trincheira de luta pela democracia, a atuação politica de Jório , que foi eleito deputado estadual em 1982 praticamente com os votos obtidos na Capital e pontua o espírito empreendedor de Machado que fundou uma agência de publicidade e um moderno parque gráfico na época.

Jório Machado e a trajetória de um pequeno grande homem

Também na matéria especial, há destaque para o sofrimento de Jório na época da eclosão do movimento militar de 64, ao ser levado para Fernando de Noronha onde sofreu torturas física e psicológica. Confira:Mesmo com a repressão da Ditadura Militar nos calcanhares, o jornalista Jório de Lira Machado usou disfarce e arriscou voltar à sua casa – a esta altura vigiada por agentes do Exército -, para visitar Cristiano, o filho recém-nascido. Saiu-se bem, embora, mais tarde tenha sido preso e levado para Fernando de Noronha, onde passou três meses sendo torturado física e psicologicamente.

As portas para ele se fecharam. Demitido dos empregos e impedido de ocupar um cargo no DASP, após tirar o primeiro lugar num concurso, abriu a gráfica- jornal O Momento e, com a ajuda de amigos, ousou pregar a liberdade, numa época em que o Brasil se tornara, ideologicamente, um país de mudos.

Advogado, professor da UFPB e procurador da Assembleia Legislativa da Paraíba, Jório era filho da professora Maria Anália de Lira Machado e do agente fiscal Antônio Guimarães Machado. Nasceu em Teixeira no Sertão Paraibano, a 25 de janeiro de 1935. Logo cedo, optou por vencer na vida em João Pessoa: trabalhando duro e estudando muito. Aos 16 nos já frequentava as redações dos jornais O Norte, Correio da Paraíba e A União.

Fora da Paraíba pertenceu aos quadros do Jornal do Brasil e da Revista Manchete. Destacou-se na profissão por seu espírito de combatividade, sobretudo diante das questões sociais do seu tempo. Fundador da gráfica e agência de propaganda Iterplan, foi pioneiro no Nordeste na implantação do sistema off-set de impressão, no início da década de 70,

Em 1974, fundou o jornal O Momento, que se transformou num canal aberto de todas as correntes de pensamento, sem censura, policiamento ou patrulhamento de qualquer ordem. O Momento ganhou força e prestígio exatamente pela linha democrática que mantinha e por se transformar numa trincheira de combate aos gestores corruptos, que se locupletavam do dinheiro público descaradamente, aprofundando ainda mais as injustiças sociais da época.

“O Momento que ele plantou, construiu e sustentou com muita coragem e destemor foi esse: sem subserviência ou subterfúgios e com a verdade estampada em suas páginas de forma irrefutável, todas as denúncias vinham municiadas de provas documentais”, lembra seu filho, o jornalista Cristiano machado, ex-Diretor Administrativo de A União, no últimoo governo de José Maranhão (2009-2010).

E sublinha ele: “Ao longo de toda sua carreira profissional, de cidadão e de homem público, ele se pautou assim, com decência, honradez, retidão, seriedade e, não por menos, sempre foi devidamente respeitado, e sua memória ainda continua sendo alvo de felizes lembranças”, diz.

TRAJETÓRIA POLÍTICA, PROFISSIONAL E VIDA PÚBLICA

Atraído pela política, foi eleito deputado estadual em 1982, pelo PMDB, com quase 15 mil votos, dos quais 8 mil foram obtidos na Capital, numa das mais memoráveis campanhas eleitorais. Sua votação representou, na época, 10% do eleitorado pessoense, um recorde até então inatingível. O slogan de campanha “O Momento é agora” era muito sugestivo. Em 1984 ele se desfaz de O Momento, não se reelegendo em 1986 (a força dos homens da mala chegava à Paraíba com muito poder de fogo para comprar mandatos). Com a eleição do governador Tarcísio Burity é convidado para assumir a Superintendência de A União, promovendo na empresa razoável organização administrativa e financeira.

Dois anos depois ele deixa o governo e retorna à iniciativa privada, fazendo ressurgir o semanário O Combate, no mesmo prédio onde funcionou O Momento. Além de deputado estadual, Jório foi secretário de Justiça e Cidadania, no governo de Antônio Mariz; e Secretário de Comunicação Institucional, no governo de José Maranhão; Procurador da Assembleia Legislativa da Paraíba; professor das Cadeiras de Comunicação Social e de Direito da UFPB. Jório de Lira Machado faleceu no dia 21 de julho de 2003, quase 30 dias após um acidente automobilístico, perto de Santa Luzia, no Seridó Paraibano, a 248 Km de João Pessoa. Tinha 68 anos. Retornava de uma visita a Teixeira. Vinha para a Capital.

Do primeiro casamento com a professora Cleide Xavier de Lira Machado, ele deixou três filho (o engenheiro civil Alexandre Machado, a advogada aposentada do TRT, Larissa Machado e o jornalista e bacharel em Direito Cristiano Machado). Do segundo casamento com Elizabeth (Betinha) Gonçalves Silveira (recentemente falecida), ele deixou o filho Jório Machado da Silveira, advogado e músico. Deixou também os netos Monique Machado (in memorian); Natasha, Jório, Victor, Jéssica, Gabriel, Lucas e Igor. Não viveu a tempo de conhecer os bisnetos Pedro e Téo,

Como profissional respeitado ele mantinha uma espécie de linha direta com os expoentes da política paraibana, a exemplo de José Américo, João Agripino, Pedro Gondim, Tarcísio Burity, Antônio Mariz e José Maranhão. Criou, assim, um vínculo de amizade e quase todos eles frequentaram sua casa por várias ocasiões. Todos eram homens públicos de respeito, que exerciam mandato popular como uma profissão de fé é, faziam política com dignidade”, compara Cristiano. “Eram muito diferentes dos que surgiram de uns tempos para cá. “Acho que isso fez prevalecer o respeito e admiração mútua entre eles”. Admiração especial mesmo ele nutria pelo ex-governador João Agripino Filho, criando um laço de amizade forte com toda família MarizMaia, até hoje preservada pelos sucessores.

“Foi o reconhecimento ao homem e ao líder que aprendi a admirar, desde os verdes anos da minha juventude. Suas posições de cidadão e político inspiraram-me a outorga da Medalha Epitácio Pessoa, a comenda mais importante da Paraíba a homens assim, da grandeza e estirpe de João Agripino Filho”, justificou Jório em discurso pronunciado numa solenidade da ALPB, em março de 2001.

Quando o Golpe Militar de 1964 eclodiu, Jório Machado era jornalista do Correio da Paraíba. Alí mantinha uma Coluna diária e exercia o que se chama de jornalismo investigativo. Ele não era filiado a nenhum partido político, mas via com simpatia as lutas contra as injustiças sociais, especialmente no campo, travadas pelas Ligas Camponesas, que tinha a frente o ex-deputado Assis Lemos, seu amigo.

Cristiano adianta que Jório acompanhava algumas dessas ações das Ligas na condição de jornalista e isso talvez o tenha transformado num alvo das forças mais reacionárias. Quando soube que estava sendo caçado pelos militares, passou um tempo escondido na casa de familiares. Antes de ser preso, teve tempo de visitar o terceiro filho que acabara de nascer (Cristiano, no dia 8 de abril de 1964) disfarçado com um casaco, um coturno e um chapéu. Passou alguns dias preso em João Pessoa antes de ser deportado para a ilha de Fernando Noronha.

“Sofreu torturas física e psicológica, sem que tivesse cometido qualquer crime que justificasse tamanha brutalidade”, observa Cristiano. “Ao retornar da ilha, três meses depois, foi reorganizar a vida, já que havia sido demitido das empresas em que trabalhava e não pode assumir o cargo de um concurso promovido pelo DASP, onde havia sido aprovado em primeiro lugar. Foi aí que montou a gráfica e tocou o barco. Mas, vez por outra, era importunado para prestar depoimentos no 15º RI, em João Pessoa (hoje o 15º BImtz – Batalhão de Infantaria Motorizada).

APÓS CAÇADA TENAZ EM JOÃO PESSOA, A PRISÃO EM FERNANDO DE NORONHA

No livro 1964: “A Opressão dos Quartéis”, Jório Machado escreve, do próprio punho, a sua trajetória de preso político, desde a prisão em João Pessoa, até Fernando de Noronha.

1º de Abril de 1964, um dia após a eclosão do golpe militar – Jório soube que estava sendo procurado e fugiu, Dormiu na casa do jornalista Gonzaga Rodrigues. Depois saiu para a do jornalista José Ferreira Ramos e, de lá, abrigou-se na casa de seu primo, o coronel Clodoaldo Lira. Ainda se sentindo inseguro, pousou na casa de uma prima Laura Lira. Todos que o ajudaram corriam riscos e moravam em João Pessoa.

8 de abril de 1964 – Jório andava nas ruas com os sentidos alertas. Disfarçado, caminhou até a maternidade São Vicente de Paulo, em João Pessoa, para visitar o seu terceiro filho, recém-nascido. Era Cristiano, hoje advogado e jornalista. Ao entrar no hospital, topou de frente com o industrial Renato Ribeiro Coutinho, baluarte do Golpe Militar na Várzea da Paraíba. Não foi visto. Cumpriu sua missão paterna. Fugiu. Coincidentemente, este foi o dia em que o Comando Revolucionário havia baixado o AI-1, suspendendo, por seis meses, o direito constitucional da estabilidade e vitaliciedade,

19 de abril de 1964 – Mesmo mudando de esconderijo, foi preso em João Pessoa e conduzido para o quartel do 15º RI, em Cruz das Armas e, no dia seguinte, para a Base Aérea do Recife.

20 de abril de 1964, às 23 horas – O tenente Alves anuncia, na porta do xadrez: “Jório, Bento, Laurindo, Langstein e Luiz Hugo, se preparem que vão viajar”. Junto com Jório estavam presos Bento da Gama, Laurindo Marques, Langstein de Almeida e Luís Hugo Guimarães. Um boato a boca fechada, deu conta que o destino deles seria Fernando de Noronha.

21 de abril de 1964, durante a madrugada – o quinteto foi colocado sob escolta em cima de uma viatura do Exército, que ganhou a estrada do Recife. Chegaram após cinco horas de percurso. O tenente Alves, ajudado por uma escolta do 15º RI e outra da Base Aérea do Recife, embarcou os presos num avião militar, com destino a Fernando de Noronha. Chegaram lá às 17 horas.

O coronel Ibiapina, governador militar de Fernando de Noronha, já estava lá. Escolheu três dos cinco presos, para anunciá-los a seu modo: Com Jório: “este é jornalista desaforado, mas vou amansá-lo no pau;” com Langstein: “este é assassino perigoso”; com Bento da Gama: “e este é o comunista da Supra (Superintendência Nacional da Reforma Agrária, equivalente ao Incra atual).

Ao desembarcar em Fernando de Noronha, uma ambulância já os esperava, dirigida por um capitão médico, que, certa vez, ao acordar Jório tarde da noite, para “um passeio”, tentou amedrontá-lo, afirmando: “antigamente, alguns presos daqui iam para um calabouço secreto, onde havia um sumidouro para serem atirados aos tubarões”. Três meses depois, antes de ser liberado de Fernando de Noronha, o coronel Ibiapina dirigiu-se a Jório e disse: “se algum dia você sair daqui, lembre-se de mim”.

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