Ex-chefe da Marinha confirma reunião com Bolsonaro, mas nega tropas à disposição de golpe; veja vídeo
O ministro Alexandre de Moraes perguntou ao militar se ele teria se manifestado favoravelmente às propostas golpistas numa reunião entre Bolsonaro, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e os chefes do Exército e da Marinha, em 7 de dezembro de 2022.
“Não, senhor”, respondeu Garnier. “Não houve deliberações nem o presidente abriu a palavra para nós. Ele fez as considerações dele, pareciam mais preocupações e análises de possibilidades do que propriamente uma intenção de conduzir alguma coisa em determinada direção”.
Naquela reunião, Bolsonaro apresentou um documento de dez páginas que continha uma série de considerações sobre a condução do processo eleitoral, com o que o grupo aliado do ex-presidente via como interferência do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o governo e a campanha de reeleição.
Garnier diz que entendeu as considerações apresentadas por Bolsonaro uma preocupação do ex-presidente com a segurança pública, já que, após o resultado das eleições, milhares de pessoas se reuniram em frente a quarteis do Exército, e caminhoneiros bloquearam rodovias.
“O que eu me lembro é que foram apresentadas considerações que deixaram uma dificuldade na condução do país. Afinal de contas, o candidato derrotado Jair Messias Bolsonaro ainda era o presidente e preocupava a ele os demais ministros, inclusive o da Defesa, algo que pudesse descambar em algo não muito agradável”, disse.
Os ex-chefes militares Freire Gomes (Exército) e Baptista Júnior (Aeronáutica) afirmaram à Polícia Federal e ao Supremo que Garnier foi o único comandante das Forças Armadas que declarou a Bolsonaro apoio às propostas golpistas.
“Acho que tem grandes equívocos aí. Nesse contexto em que foi atribuída a minha fala, eu nunca disponibilizei tropas para ações dessa natureza”, disse o ex-chefe militar.
Gonet não perguntou em qual outro contexto ele teria feito a afirmação.
De acordo com os depoimentos dos outros comandantes militares, o anúncio do apoio não teria acontecido na reunião de 7 de dezembro de 2022 —data usada na denúncia da PGR e nos questionamentos de Moraes.
“Que o depoente e o brigadeiro Baptista Júnior afirmaram de forma contundente suas posições contrárias ao conteúdo exposto; que não teria suporte jurídico para tomar qualquer atitude; que acredita, pelo que se recorda, que o Almirante Garnier teria se colocado à disposição do presidente da República”, disse o ex-chefe do Exército.
“Em uma dessas reuniões, eu tenho uma visão muito passiva do almirante. Eu lembro que o ministro Paulo Sérgio e eu conversávamos mais, debatíamos mais, tentávamos demover mais o presidente. Em uma dessas reuniões, chegou o ponto em que ele falou que as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente Bolsonaro”, disse.
Almir Garnier é o terceiro réu a prestar depoimento ao STF nessa nova fase do processo. Antes dele falaram o colaborador Mauro Cid e o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem.
Garnier confirmou que visitou o então presidente Jair Bolsonaro em 1º de novembro de 2022 com o ministro da Defesa e os demais comandantes militares para informar que as Forças Armadas não haviam identificado fraude nas eleições presidenciais.
Ele contou que poucos dias depois do primeiro encontro, os chefes militares foram outra vez ao Palácio da Alvorada para entregar o relatório da equipe de fiscalização das urnas. “O ministro [da Defesa] entregava e nós acompanhamos por compor a comissão”, disse.
O almirante ainda expôs suas divergências com o ex-chefe da Aeronáutica. Para Garnier, Baptista Júnior tentava extrapolar suas funções militares para atuar como assessor político do ex-presidente.
Foi ele o responsável por mobilizar tanques de guerra em desfile na Esplanada dos Ministérios no mesmo dia em que, do outro lado da Praça dos Três Poderes, a Câmara votava a PEC do voto impresso.
A denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) diz que Garnier foi o único dos chefes das Forças Armadas que deu apoio a Bolsonaro para a tentativa de golpe de Estado.
“Os depoimentos prestados pelo General Freire Gomes e pelo Tenente-Brigadeiro Baptista Junior apontam que, na reunião de 7.12.2022 no Palácio da Alvorada, o então Comandante da Marinha se colocou à disposição de Jair Bolsonaro para seguir as ordens necessárias ao cumprimento do Decreto”, diz trecho da acusação.
As penas máximas somadas podem ultrapassar 40 anos de prisão.
Fonte: Portal Folha/UOL