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Entrevista com a nova reitora da UFPB, Terezinha Domiciano: “Nova gestão terá foco em parcerias públicas e serviços à sociedade”

Restabelecer o diálogo, retomar a autonomia universitária e aumentar os investimentos públicos para a Universidade Federal da Paraíba são algumas das prioridades da reitora Terezinha Domiciano, eleita pela comunidade acadêmica em abril deste ano, juntamente com a professora Mônica Nóbrega. As duas iniciarão o mandato em novembro. Com experiência em gestão, tendo atuado como diretora do Campus III, em Bananeiras, Terezinha detalhou as prioridades, o papel dos alunos na tomada de decisões e as estratégias para enfrentar os desafios orçamentários e administrativos. Confira, na íntegra, entrevista feita por Lílian Viana para o Jornal A União deste domingo, 27/10.

Qual o significado deste momento de retomada da escolha presidencial pelas candidaturas mais votadas?

Eu poderia dizer que vai além do resultado da consulta eleitoral. É uma retomada da autonomia universitária e do respeito à democracia, também, e à toda comunidade acadêmica. Esse é o nosso sentimento: meu e da professora Mônica. Mas é um sentimento que eu poderia dizer que é generalizado, tanto dentro da UFPB como fora, como também em todas as universidades brasileiras. Porque foram 25 instituições federais de ensino que não foram respeitadas em suas escolhas durante a gestão anterior. E isso aí gerou um impacto muito negativo nas universidades, nos processos de autonomia e de democracia universitária. Então, trazer agora candidatas eleitas novamente, como é o meu caso e o da professora Mônica, realmente demonstra o que as pessoas querem, que a comunidade quer ser respeitada nas suas escolhas.

 Em relação ao governo atual e a novas políticas públicas, é possível vislumbrar melhorias no cenário da Educação, como um todo?

Com certeza. Há uma expectativa da questão da retomada do orçamento. A Andifes [Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior tem buscado, junto aos reitores eleitos, essa discussão em nível de Ministério da Educação, mas também na SESU [Secretaria de Educação Superior] e nas demais secretarias relacionadas, tanto ao ensino de graduação como também à questão do ensino técnico, tecnológico e básico. Nós sabemos que o Governo Federal tem enfrentado alguns problemas, mas temos aí uma esperança que possa melhorar os recursos para as universidades federais, seja na parte de investimento, seja de custeio, porque as universidades estão realmente carecendo desse recurso para poder fazer, pelo menos, a manutenção, já que o governo anterior realmente reduziu bastante os recursos das universidades. Não foi apenas o desrespeito à autonomia, mas também o desrespeito com baixos investimentos que foram colocados nas nossas instituições.

 Existe uma noção do impacto provocado por esses cortes sucessivos no orçamento?

O relatório de gestão 2024 mostra uma redução em torno de praticamente 37% do orçamento da UFPB, ao longo dos anos. A universidade cresceu, tem inúmeros espaços e muitas obras que foram paralisadas por falta de recursos, durante esse tempo, sem falar na impossibilidade de realizar manutenções em laboratórios, bibliotecas setoriais… O mundo presenciou várias inovações, mas a universidade ficou sem poder fazer esses investimentos. Foram anos muito difíceis mesmo, mas já estamos agindo para retomar as obras e focar em investimentos nas nossas atividades de ensino, pesquisa e extensão que, realmente, estão carecendo.

 Qual a expectativa orçamentária da UFPB para 2025?

A expectativa é um pouquinho acima de R$ 2 bilhões, praticamente o valor de 2024. É um montante para a universidade permanecer como está, sem ter nenhum investimento para retomar as obras que estão paralisadas e sem ter nenhum investimento focado nas manutenções de que nós estamos precisando. Se formos fazer uma avaliação do que realmente precisa ser feito na UFPB, hoje, nós estamos estimando mais R$ 200 milhões; assim, conseguimos retomar as obras paralisadas e melhorar a questão das infraestruturas acadêmicas. Não é para fazer muitas inovações, é pelo menos para manter o que nós já temos.

Há possibilidade de incrementar esse orçamento de outra maneira, além do montante enviado pelo Governo Federal?

Sim. Estamos conversando com os parlamentares paraibanos em Brasília para que eles possam destinar emendas para a UFPB também e, assim, possamos potencializar nossas ações dentro da universidade. Também estamos dialogando com o Governo do Estado, com prefeitura e vários ministérios, para que eles possam investir na universidade, reconhecendo o papel que tem a UFPB, no contexto regional, e a capacidade técnica que nós temos instalada na UFPB . Trazendo mais recursos, nós vamos implementar cada vez mais ações visando a comunidade interna, mas também a comunidade externa.

 Como está o processo de transição?

No dia 12 de novembro, nós tomaremos posse. Mas, há uma comissão de transição, que nós solicitamos, para participar e discutir todo esse processo junto ao reitor atual. A comissão é formada por docentes e técnicos administrativos, que estão, principalmente, nas pró-reitorias, coletando dados, discutindo inclusive as rotinas de trabalho, o que precisa melhorar nos processos de gestão. Com base nisso, está sendo elaborado um relatório — que está em fase final de redação, inclusive — para ser debatido conosco em uma reunião que vai anteceder nossa posse. Com um conhecimento mais aprofundado sobre tudo o que foi coletado no relatório, nós poderemos, realmente, fazer um início de gestão mais focado em resultados.

 Há pretensão de dar continuidade ao que foi iniciado pela gestão anterior?

A nossa postura é dar sempre continuidade ao que for positivo. Então, a comunidade pode ficar tranquila em relação a isso. O que vamos fazer de diferente é focar no processo mais democrático; a nossa gestão será muito mais focada nas pessoas e no diálogo, sem perder o foco nos indicadores de resultado. Sempre buscando ter processos de melhoria para graduação, para pós-graduação, para pesquisa, para inovação, para empreendedorismo, entre outros. Nós vamos estar na gestão, colocando, pegando as experiências boas, trazendo as pessoas que tenham essas experiências nas diversas áreas para colocarmos a universidade no patamar que ela merece estar.

Quais as prioridades da gestão?

Nosso foco está no desenvolvimento de projetos inovadores e na relação da universidade com a sociedade. Nós temos inúmeros docentes, discentes e técnicos, inclusive, já com inúmeros projetos de ensino, de pesquisa e de extensão. Mas o nosso foco vai ser manter mais estreita essa relação entre academia e sociedade, focando em resultados positivos para ambos. Para isso, estamos trabalhando a possibilidade de parcerias com o Poder Público. Nós pretendemos, também, trazer pautas de inclusão, que já existem, mas que precisam ser fortalecidas com outras pautas que não estavam nem previstas na gestão anterior. Outro projeto a que a gente precisa estar bem atenta é com relação à internacionalização da universidade, também com parcerias e implementação de projetos.

 As parcerias com iniciativas privadas também estão no radar?

Faz parte da discussão também. A gente já percebe vários centros na universidade que se beneficiam dessa parceria. Inclusive, nós já estamos em discussão com o Instituto Coca-Cola para incluir um projeto, aqui na UFPB, sobre empregabilidade de jovens. A ideia é que eles possam ser treinados — nossos alunos e estudantes de escolas públicas — através de uma plataforma que eles têm, com a possibilidade de trabalho após essas capacitações.

 E a questão das greves? Como a sua gestão pretende lidar com isso?

Já fomos sindicalistas também, já fui represente de alunos, presidente de residência universitária e já fui da Aduf, em Campina Grande. Então, de certa forma, já faço parte do diálogo e das lutas de cada categoria. O nosso lema é ouvi-los, respeitá-los. Vamos manter uma relação muito estreita nessa defesa, também. A categoria da educação é a menos valorizada de todas as categorias do serviço público federal, então nunca é uma greve pela greve. Existe todo um histórico. Nós vamos estar nessa defesa sempre com muito respeito às demandas e às deliberações das categorias.

 E quanto aos alunos?

Há propostas para incluí-los na tomada de decisões na gestão? A participação dos discentes é muito importante para nós. Esperamos que eles se sintam livres para fazer suas escolhas e também para opinar, sem medo de serem perseguidos ou processados, como aconteceu na gestão anterior. Os discentes estão como uma categoria prioritária na nossa gestão, porque a universidade só existe porque tem alunos. Então, seja na questão de uma política mais efetiva para o aluno entrar e permanecer, seja em política de bolsas, de esportes, de arte, de cultura, pretendemos investir em ações e, acima de tudo, ouvi-los. Nós pretendemos realmente fazer essa gestão focada no diálogo e no respeito.

 No dia 12 de novembro, assim que assumirem a gestão, qual será a primeira ação?

Sem sombra de dúvidas, precisamos discutir e aprovar o Planejamento Estratégico da UFPB, que está bem atrasado, mas que é necessário para o processo de recredenciamento da universidade, em março do ano que vem. Esse documento é essencial, sem o qual não há nem avaliação. E isso impacta, diretamente, nos projetos, nos investimentos e na sustentabilidade da própria universidade. Vamos restabelecer a questão do diálogo com os diretores de centros. E, volto a falar, a relação universitária com a sociedade é muito importante. Muito importante, seja na questão das emendas, de recursos que podem vir para dentro da universidade, mas também do que a universidade pode fazer, além do que já faz para a sociedade. Enfim, nós temos um grande desafio pela frente, mas estamos preparadas e motivadas.

 

Transcrição do Jornal A União

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