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Empresário paraibano foi morto em Sergipe sem chance de defesa, diz delegado

Um laudo produzido pela Polícia Civil da Paraíba aponta que o local em que Gefferson de Moura, de 32 anos, morto durante uma operação policial de Sergipe no Sertão paraibano, foi adulterado pelos policiais que participaram da ação. A informação foi divulgada, durante uma entrevista coletiva, realizada na manhã desta quarta-feira (24).

“Outro ponto importantíssimo do meu laudo foi constatar a adulteração do local. Primeiramente, esse veículo deveria ter sido vistoriado no local onde ocorreu o fato”, revelou o perito da Polícia Civil da Paraíba, Adriano Medeiros, que realizou a perícia no veículo da vítima.

Vítima foi morta no dia 16 de março. Gefferson de Moura estava indo para o município de Cajazeiras visitar o pai, infectado com Covid-19

A vítima foi morta no dia 16 de março. Gefferson estava indo para o município de Cajazeiras visitar o pai, infectado com Covid-19, quando foi surpreendido por um delegado sergipano em Santa Luzia.

Conforme o perito, pelo menos três situações o ajudaram na constatação das mudanças feitas na cena do crime.

“As informações que a gente são de que ele [delegado] colocou um dos policias pra conduzir o veículo até aqui na delegacia de homicídios. Isso já adulterou manchas de sangue […]. Como a gente tem a certeza de que, provavelmente a vítima faleceu dentro do veículo, era pra ele [jovem morto] ter permanecido lá também […]. A gente viu que foi feita uma vistoria dentro do carro por eles [policiais]. Existiam vários objetos em desalinho dentro do veículo, inclusive no porta-malas, uma estava totalmente desfeita”, detalhou.

Segundo o laudo pericial, as manhas de sangue, no formato de poças que estavam dentro do carro, indicam que Gefferson não foi socorrido imediatamente.

“Um porta objetos ficou completamente cheio de sangue, o que dá a atender que a vítima passou um bom tempo lá [dentro do automóvel], prosseguiu Adriano.

Já o delegado Glauber Fontes, informou que o caso é tratado, até o momento, como uma execução.

“O jovem não teve a menor possibilidade de defesa. Levou oito disparos, praticamente à queima roupa, sem saber o que estava acontecendo”, relatou.

Ainda conforme Glauber, o crime pode ter acontecido pela semelhança física entre a vítima e homem, que seria alvo da operação policial.

“Os policiais de Sergipe estavam à procura de uma outra pessoa, que não era o Gefferson. Mas, pelo fato do Gefferson apresentar alguns traços fisionômicos semelhantes ao alvo que eles procuravam, foi sumariamente executado”, disse.

O delegado explicou, ainda, que existe a possibilidade da arma que foi apontada como sendo da vítima, ter sido plantada pelos policias envolvidos na ação. No entanto, a suspeita segue em investigação.

“Em consulta aos bancos oficiais, a arma aparece como de propriedade de um policial militar, coincidentemente de Aracaju, Sergipe”, destacou.

O inquérito policial instaurado na Paraíba ainda não foi concluído. Mas se não houver uma reviravolta no caso, os policiais civis que participaram da ação podem responder pelos crimes de homicídio qualificado e fraude processual, por causa da adulteração da cena do crime.

Três policiais de Sergipe foram presos na segunda-feira (23), após uma determinação judicial. Eles são suspeitos de matar Gefferson. A prisão foi realizada em Aracaju. Os presos são um delegado e um agente de investigação da Polícia Civil e um policial militar. A equipe já havia sido afastada no domingo (22) até a conclusão do inquérito policial.

Segundo os policiais presos, eles estavam em território paraibano investigando um grupo que atua no roubo de cargas em Sergipe e que estava escondido na Paraíba. Eles alegam que tinham mandados de prisão expedidos contra esse bando e que por isso fizeram várias diligências no estado. Em certo momento, alegam ter se deparado com um veículo em atitude suspeita e com o condutor armado com uma pistola. Teria havido reação e os policiais atingiram o motorista, Gefferson, que ainda teria sido socorrido, mas morrido em seguida.

O Ministério Público da Paraíba (MPPB) instaurou um procedimento administrativo para acompanhar a investigação da Polícia Civil do estado sobre a morte de Gefferson Moura.

“Vamos analisar os depoimentos, as informações e os elementos de prova que venham a embasar o inquérito, para a partir daí, ver quais medidas serão adotadas. O Ministério Público é responsável pelo controle da atividade policial e é essa atividade que estamos desenvolvendo com o objetivo de saber se os fatos estão sendo apurados de forma regular, garantindo aos familiares e à sociedade a resposta adequada sobre o que aconteceu”, disse.

Do G1.

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